30 de dezembro de 2002

RESOLUÇÕES PARA O ANO VINDOURO - PARTE 3 DE ?

cobrem, cobrem sempre. e se eu espernear, peguem essa prova documental que aqui deixo e ajuizem a ação pertinente, exigindo o cumprimento dessas obrigações de fazer, porque eu me comprometi, então eu que me vire. porque os amigos são pra isso, pra empurrar a gente pra frente, ainda que aos tropeções.

porque eu preciso parar de ficar juntando papel, que isso aqui está começando a lembrar uma usina de reciclagem. eu sempre acho que vou precisar deles depois, e quando raramente ocorre de eu realmente precisar, não consigo achar de qualquer maneira, porque, fala sério, quem é que acha alguma coisa no meio dos meus papéis? eu é que não..

porque eu preciso estar mais presente naquilo que eu faço, sempre, muito. preciso estar inteira no mundo, na vida, o trabalho, na poesia, com vocês, sem vocês.

preciso ser mais tolerante com as pessoas, preciso perdoá-las mais, preciso pedir perdão mais vezes. preciso baixar a cabeça diante de algumas coisas, erguer a cabeça diante de outras. preciso ser mais eu, se é que é possível eu ser mais eu do que eu já sou.

preciso lembrar de agradecer mais pela luz que todos vocês me trazem. que é muita. então, vamos fazer assim. essa resolução não vai ficar pro ano que vem não. essa eu começo a cumprir esse ano ainda. agora. então, meus caros, OBRIGADA. de coração.

que o ano que vem seja tão bom pra vocês quanto esse último ano foi pra mim. muitas felicidades.



RAPIDINHAS - FIONA APPLE

para alguém que está, assim, sempre tão longe, sempre tão perto. sempre sempre perto. grifos nossos.

"and when the crowd becomes your burden
and you´ve early closed your curtains
i´ll wait by the backstage door
while you try to find the lines to speak your mind
and pry it open, hoping for an encore
and if it gets too late for me to wait
for you to find you love me, and tell me so
it´s ok, don´t need to say it."

29 de dezembro de 2002

DÚVIDA

os que me conhecem, por favor, esclareçam: eu lá tenho cara de piranha drogada, por acaso? ontem, arrasto uma amiga pra pista dois da bunker pra assistir o show do glamourama, e do mais absoluto nada, um sem noção me pega pelo braço e convida, e aí, vamos beber, vamos cheirar, vamos picar, vamos fuder? e eu, amigo, foi mal, quero assistir o show. e o cara continua, ah, vamos cheirar, aí. vambora. ah, sim, tem o detalhe: não é a primeira nem a segunda vez que coisa assim me acontece.

putz. tem gente que deveria pagar uma multa diária ao mundo só por respirar, e desperdiçar oxigênio que poderia estar sendo melhor utilizado por gente decente.

ah, sim, pra quem estiver imaginando, o show foi dez. os meninos do glamourama são muito bons. vão vê-los, comprem o cd, que eles merecem. aí embaixo são eles num outro show, pra deleite das fãs descabeladas (eu duvidei, mas não é que eles de fato têm fãs descabeladas?).





MAU HUMOR

não reclamem: eu sou só um pobre limãozinho. minha azedice é de araque, feito a daquele chicletinho, azedinho doce, que eu adorava quando era menina e os dinossauros ainda caminhavam sobre a terra. eu sou uma amadora, como vocês bem sabem. esse cara, em compensação, é o mestre yoda da azedice. guru absoluto, e de uma competência extrema. merece leitura diária, se vocês gostam de rir.

"Satisfação garantida ou seu acesso de volta - BLOGMA 95 na íntegra, atendendo a pedidos:

1 - Só o Gláuber Rocha tem (ou tinha, coitado) o direito de trocar o "qu" pelo "k" e mesmo assim não sei não.
2 - Gonzorréia (apud Bituca), Blogorragia e Umbiguismo: a persistirem os sintomas, um médico deverá ser consultado.
3 - (Se você é mulher) Falar sobre quantos poros do seu corpo foram penetrados na relação sexual tudo bem, mas contar sobre se você dormiram abraçados depois é demais. Limites.
4 - Jamais se orgulhar da repercussão, das citações nos jornais, dos elogios dos leitores, do número de acessos, blogue é coisa de zero à esquerda e você sabe disso.
5 - Se você já foi cobrir entrevista coletiva de rockstar, de qualquer um, e escreveu a materiazinha, isso te desautoriza PARA SEMPRE como gonzo-jornalista*. E não adianta.
6 - Punheteiros tem que ser levados em conta.
7 - Piadas Mastercard e Univitelinos (aka. "Separados no berço"): vetadas.
8 - Culto a Paulo Francis, especialmente se vc tem menos de 25 anos, porque é impossível que alguém de tão tenra idade tenha mesmo colecionado o "Diário da Corte" e gostado de uma merda daquelas, onde o cara falava de Edmond Wilson coluna sim coluna não: terminantemente proibido.
9 - Blogs confessionais, só se não rolar vergonha de queimar o filme. Ex: "ontem ia tocar punheta, mas broxei".
10 - Jamais explique.

* - Gonzo mesmo era o Eduardo "Peninha" Bueno que, numa coletiva da CBD em 1978 perguntou pro João Havelange o que ele achava do Pink Floyd."




CARTA DA SEMANA

é, gente, ainda na febre do que aprendi hoje. e pra quem estiver curioso, esse aí é o meu infinito.



SCOTT MUTTER

nota um: aprendi a postar figuras! e por meus próprios meios, vejam só. quem sabe eu não seja tão incompetente assim... ah, não, não vou me iludir: sou sim. só dei sorte. mas ainda assim, essa valeu o dia.

nota dois: não se iludam. entendo lhufas de fotografia. mas esse cara é uma viagem. muito, muito bom. ah, eu roubei de algum lugar, só não me lembro de onde. peço que o plagiado me perdoe.

28 de dezembro de 2002

RESOLUÇÕES PARA O ANO VINDOURO - PARTE 2 DE ?

continuem cobrando, sempre. e se eu disser, porra, não enche... cobrem mais um pouco. só pra provocar. porque eu tenho que ser mais organizada, senão um dia eu vou desaparecer e será necessária uma expedição de arqueólogos desbravadores pra me achar na zorra do meu quarto. também tenho que aprender alguma coisa de html, pra parar de encher o saco dos meus amigos cada vez que isso aqui der pau.

ah, e uma sugestão de uma amiga: tenho que parar de frequentar a bunker, porque, na boa, aquilo ali é um lixo... só tem que, sei lá, essa última, bem... não vai rolar. não discuto o lixo. mas é o MEU lixo... trash bom, muito bom. ou estou enganada?

DIAS EM SEGUIDA

estoit il lors temps de moy taire?
françois villon

"vida — a que me convidas?
aos becos sem saída,
às noites mal dormidas,
à esperança perdida,
ao dano dos inseticidas,
à brasília podrida,
à fé de n. s. aparecida,
às idéias traídas,
às poesias reunidas,
às migalhas do rei midas,
às verdades não vividas,
aos dias em seguida?

vida — a que me condenas?
à retribuição das penas,
ao riso das hienas,
aos banqueiros da onzena,
ao assassino de viena,
à boa alma de mecenas,
ao remorso de madalena,
ao socorro da sirena,
ao torpor das cantilenas,
à calvície de melena,
ao destino das antenas,
a morrer apenas?"


(Régis Bonvicino, in 33 Poemas)
VOLTAMOS A PI E AO INFINITO...

ainda não tinha dito. parece que pi e o infinito terão que ser retocados. paciência. quem disse que o infinito vem fácil?
SALVA DE PALMAS

só palmas não bastam. o guilherme me deu uma dica de ouro pra restabelecer neste blog o respeito ao direito fundamental à liberdade de expressão, à constituição brasileira, e ao estado democrático de direito. com destaque também para a imensurável boa vontade da graziella e do gustavo. é, pois é, ainda existe gente decente no mundo. meus agradecimentos.

agora, só falta consertar os links individuais para cada post. aí, fica perfeito, eu não reclamo nunca mais e não mexo mais nessa joça. agora chega!

27 de dezembro de 2002

RESOLUÇÕES PARA O ANO VINDOURO - PARTE 1 DE ?

conto com vocês. não me deixem desistir no meio do caminho, fingir que esqueci, porra nenhuma. cobrem, cobrem, cobrem. ano que vem tenho que voltar para o ioga. tenho que ser mais cristã. tenho que me alimentar decentemente. tenho estudar mais. tenho que abrir mais espaço para as pessoas na minha vida, para aquelas que merecem espaço, que são tantas, mas tantas...
ESTALO

ainda aproveitando que meus pobres leitores estão desprovidos de voz. hoje me veio um estalo. maybe that´s the deal. maybe it´s just that i should learn to be more of an android, just for now. just for a while. whatever (para usar uma expressão que insiste em estar presente nas bocas de amigos meus).
...
ok. me chamem de louca, eu não me importo. quem entendeu, entendeu. quem não entendeu, pula essa. vai pro próximo post. prometo que vou me esforçar pra que ele seja mais normal.
MAIS CLARICE

aproveitando que a liberdade de expressão é direito fundamental flagrantemente ignorado por esse blog (temporariamente, espero eu), aproveito pra retornar ao meu aparentemente polêmico oxigênio. a palavra. e clarice, sempre clarice.

"Quero escrever-te como quem aprende. Fotografo cada instante. Aprofundo as palavras como se pintasse, mais do que um objeto, a sua sombra. Não quero perguntar por quê, pode-se perguntar sempre por quê e sempre continuar sem resposta: será que consigo me entregar ao expectante silêncio que se segue a uma pergunta sem resposta? Embora adivinhe que em algum lugar ou em algum tempo existe a grande resposta para mim."
(in Água Viva - grifos nossos)

26 de dezembro de 2002

WANTED

procura-se desesperadamente alguém que entenda de html, pra resolver os intermináveis problemas no template desse blog. agora, os comments não funcionam, nem o arquivo, ou tampouco os links individuais pra cada post... se alguma alma caridosa quiser ajudar, mande-me um e-mail. ficarei bastante agradecida. só não prometo favores sexuais. o resto pode ser negociado...

25 de dezembro de 2002

UPDATE DE NATAL

não me perguntem do meu natal. escatológico demais pra que eu possa divulgar por este meio. usem a imaginação. ah, sim, e por ordens médicas, estarei fechada pra balanço até sexta. mas provavelmente postarei. porque não tem muita coisa mais que possa fazer no momento, além de pastar em casa e me entupir de antibióticos, antinflamatórios, antitérmicos... céus.

24 de dezembro de 2002

41 [UM GRITO SÓ NÃO BASTA]

"um grito só não basta
para abolir todo o silêncio que cultivamos"


(Eudoro Augusto, in Cabeças)
MÁXIMAS DE QUE A MINHA FAMÍLIA DEVERIA SE LEMBRAR

se você age estupidamente com alguém, não espere que esse alguém aja de forma diferente com você.

BRUMA

é, gente, esse poema é meu. um dos poucos que eu acho que prestam. mas me digam vocês.

não são tanto os mistérios do mundo que me assustam
tampouco a inexorabilidade da passagem do tempo
ou mesmo a inevitabilidade da chegada da morte –
mas sim os livros de páginas em branco
as palavras ainda não ditas
as pausas na respiração, na fala
os poemas presos no peito, nunca acabados
tudo aquilo que é quase sólido sem ser palpável
que paira no ar como nuvens de chuva
me aterroriza a assimetria de formas
a desarmonia da busca
TOPA UM PACTO DE SANGUE

"topa um pacto de sangue
com essa cigana do futuro
que lê
o passado na tua boca
o presente no teu corpo
e nos teus olhos
tanto quanto nos astros?"


(Alice Ruiz, in Paixão Xama Paixão)
RAPIDINHAS - ALANIS MORRISETTE

essa vai em homenagem ao amor da nossa vida na pista de dança. porque ele adora alanis.

"i don´t wanna live on someday when my motto is last week"

22 de dezembro de 2002

PARANOID ANDROID

algumas divagações desconexas a respeito do vácuo. porque a vida estes dias me fez pensar. na mecanicidade com que proferimos palavras de pseudo sabedoria, repetindo o que ouvimos daqueles que tomamos por mestres, mesmo sabendo que homem nenhum pode ensinar a outro coisa alguma. em como temos a capacidade de extrair dos atos de máxima entrega, de amor incondicional todo e qualquer resquício de sentimento. em como a paisagem não está na geografia, mas na visão. de como esse vazio de sentidos nos transforma em seres autômatos, acordamos, dormimos, trabalhamos, vagabundeamos, trepamos, tudo por força do hábito, tudo por repetição. e em como eu preferiria que minha paz residisse nesses atos reflexos, nessa inconsciência. de como eu preferiria jamais ter mergulhado nesse poço sem fundo que é a angústia humana. mas não, eu não tive escolha. eu tenho essa coisa, essa necessidade fisiológica de transcendência. uma merda isso. mas tudo bem. pelo menos posso cantar em alto e bom som, acompanhando desafinadamente a voz tocante e rasgada do tio thom yorke, que "i may be paranoid, but i´m not an android", e saber exatamente do que ele está falando. ou não.
ENIGMA EGYPCIO

" 'Decifra-me
ou te devoro ... '

'Mas devagarzinho ...
Bem devagarzinho ...' "


(Zuca Sardan, in Osso do Coração)
NINGUÉM MERECE

bunker, pista três, quatro da manhã. minha amiga descansando os pés, eu do lado dando apoio moral. do nada, aparece um dos encostos da noite, criatura absolutamente desconhecida. a figura me puxa pelo braço, me encara compenetrado e solta, "você dirige?". com minha capacidade de reagir afetada pela bizarrice da situação, respondo estarrecida que não. desapontado, o indivíduo me dá as costas, pisando firme, quase que com raiva. agora, me expliquem: que porra foi essa? na boa?
MAIS SIDARTA

ainda não pegaram esse livro do hesse pra ler? tsc tsc. incautos. perdoe-os, senhor, eles não sabem o que fazem. nem o que estão perdendo. é, gente, sei que estou enchendo o saco com ele, mas tenham paciência. é que uma conversa hoje fez ecoar na alma algumas das palavras proferidas por sidarta a seu colega govinda.

"O mundo, amigo Govinda, não é imperfeito e não se encaminha lentamente rumo à perfeição. Não! A cada instante é perfeito. Todo e qualquer pecado já traz em si a graça. Em todas as crianças já existe o ancião. Nos lactentes já se esconde a morte, como em todos os moribundos há vida eterna. A homem algum é dado perceber até que ponto o seu próximo já avançou na senda que lhe coube. No salteador e no jogador, o Buda espera a sua hora, e no brâmane, o salteador. (...) Por isso, o que existe me parece bom. A morte, para mim, é igual à vida; o pecado, igual à santidade; a inteligência igual à tolice. Tudo deve ser como é." (grifos nossos)

21 de dezembro de 2002

MAIS DO INAGAKI

gente, na boa, é por textos como esse que eu leio o blog do cara.

"BONS AMIGOS

'A causa de todas as doenças, sejam físicas, sejam psíquicas, é a impotência do sentimento. Desde o câncer no seio até a brotoeja, tudo é falta de amor'
Nelson Rodrigues

Torneiras abertas à toa. Leila, eu ainda não tô bêbado, relaxa. Quando eu me levantar desta mesa e gritar pra todo mundo que encontrei a Resposta Definitiva, aí sim é motivo pra você começar a se preocupar, ok? Teve uma vez que bebi tanto que achei que tinha virado médium, incorporei o Nietzsche, a Rita Hayworth e o Wilson Grey na mesma noite. Meus amigos sentiram que era hora de me arrastar pra casa quando comecei a cantar Put the Blame on Me e a fazer um strip no meio do velório. Não, eu tô bem, eu tô bem. Mas do que é que estava falando? Ah sim, torneiras. O problema deste mundo são esses amores não-correspondidos e desperdiçados a toda hora, entende? Como paixões que são despertadas negligentemente, ilusões platônicas que acabam com gosto de soco na alma, noites de sexo mal interpretadas, amores exilados que não encontram seu lugar no mundo, como peças extraviadas de um quebra-cabeça. O problema todo se resume nisso, corações e cérebros não falam a mesma língua. A vida seria muito menos dolorida se a gente tivesse o dom de se apaixonar por aquela pessoa que nos oferece o coração.

Deveria ser tudo questão de um clique, e pronto: aquele amigo que a gente só consegue enxergar como confidente assexuado se transformaria no príncipe encantado. Mas não, não nesse rascunho porco de mundo em que vivemos. Quem sabe na versão 2.0.

É, eu sei, não precisa falar. Você falou que eu ia me estrepar com aquela menina, mas deixou de usar pedagogia comigo, pô. Sim, pode rir, vou fazer o quê? Leila, você se esquece do quanto todo homem é crianção e imaturo, e de como a gente se torna repentinamente burro quando se interessa por alguém? Esses lances de sermão, do tipo filho não coma o que caiu no chão, cuidado com as más companhias, não aceite balas nem arquivos attachados de estranhos, yada yada yada, não dão certo. Tem que quebrar a cara pra aprender, errar, cometer novos erros. Mas deixa pra lá. Fala sério, esse vinho não parece que fica melhor a cada gole?

Leila, relaxa: tá tudo sob controle. Cê tá parecendo minha mãe, só falta pedir pra que eu arrume meu quarto. Meus livros estão todos empilhados, um dia te mostro a Torre de Pisa que fiz com meus Goethes, Fonsecas, Trevisans, Borges. Uma lindeza. Cê tá ansiosa pra ver o meu quarto? Você não sabe do que está falando, aquilo lá é um buraco negro, tudo que entra some e vai parar em outra dimensão.

Mas olha só: talvez o amor não passe de um erro de programação. Um bug atravacando o perfeito funcionamento do sistema. Um vírus no código-fonte da Matrix. Uma maldição que surgiu com a intenção única de inspirar cornos a escreverem músicas sertanejas, e de fazer minhocas treparem fulminantemente no drive-in do meu cérebro, numa putaria incessante que me atormenta 25 horas por dia. Leila, eu juro pra você: um dia vou espirrar e minhoquinhas sairão voando de minhas orelhas. Não ri não, eu tô falando uma verdade trágica: essas promíscuas malditas estão me deixando mais doido do que já sou, enchendo minha cabeça com a imagem onipresente daquela vagabunda incapaz de retribuir todo o amor que eu poderia dar a ela. Vou parecer alienado, e talvez eu seja mesmo, mas a verdade é essa: amores desperdiçados são a grande tragédia da humanidade. Se Franco, Pinochet, Suharto e todos esses babacas tivessem uma mulher legal, talvez não ficassem tanto tempo pensando em merdas totalitárias. Caralho, tô ficando mesmo bêbado. Ops, desculpe aí. Falo palavrões pra caralho.

Tem vezes que dá vontade de dizer pra aquela menina: porra, será que você não vê que eu não sou só ombro, que eu tenho boca, mãos, língua, pau? Porque estou farto de ouvir as desventuras amorosas daquela vadia com Danilos, Gérsons, Alans, Rodrigos e todo um bando de putos batizados com esses nomes típicos de classe média metida a burguesa, uns mauricinhos prestáveis pra trepar, mas que roncariam estrepitosamente se fossem obrigados a ouvir um quinto das lamúrias e confidências que a desgraçada me faz. Isso é que dá virar confidente.

Se eu quisesse realmente comê-la, jamais poderia deixar que nós nos tornássemos amigos. Com certeza ela só consegue me ver como um terapeuta assexuado, um ombro-travesseiro, jamais como um macho. Caralho. Se ela soubesse que por detrás desta fachada inofensiva se esconde um gigolô pós-graduado em usos alternativos de chantily e algemas. Jura que você pagaria pra ver isso? Engraçadinha. A verdade é que você só conhece uma pessoa entre quatro paredes, despida, literalmente e simbolicamente, de todas as máscaras que a gente usa no dia-a-dia.

Mas ainda bem que tenho você pra me agüentar. Ouvir meus desabafos é como pagar pecados em vida, quando você morrer vai direto pro céu. Onde mais eu acharia uma amiga como você, que presta atenção em tudo o que eu digo? Ou isso, ou você arqueia as sobrancelhas como ninguém. Brincadeira. Às vezes me pergunto o que leva você a aturar minhas rabujices. Você deveria ser terapeuta. E não adianta me dizer que você só faz essas coisas por minha causa. Você é uma santa, a Madre Teresa dos chatos bêbados como eu. Um dia ainda ganho na Sena e encontro uma mulher tão linda e inteligente como você. Um clique? Ué, não entendi. Burro? Sim, mas qual é a novidade? Não, não. Pode deixar, eu pego um táxi. Ok. Garçom, a conta.

Leila, como é bom ter uma amiga como você."


(por Alexandre Inagaki)
ASTRONOMY PICTURE OF THE DAY

essa é pra quem gosta de ver o universo. um pedacinho de cada vez. cada dia uma foto diferente. roubei do blog do inagaki, que é, aliás, leitura obrigatória no universo blogueiro.
MEU SILÊNCIO

o silêncio preenche o mundo que conheço, todo ele, amante possessivo, me oprime e acaricia, me invade todos os vãos. percebo que mesmo tendo estado, mesmo estando sempre, fundamentalmente sozinha, todo o tempo ele me acompanhou o passo. ele, e não aqueles que deveriam ter tomado minhas rédeas, porque estes consegui despistar. não minha família, não meus amigos, não meus amores, não meus deuses. mas o silêncio. meu silêncio. apenas ele, ele e mais nada, foi capaz de compreender os abismos que pulsam embaixo do meu seio esquerdo, dos meus olhos, do meu ventre. presente sempre, tornou-se insustentável - e que companheira ingrata fui eu, sempre tentando me esquivar, sempre perdendo o fôlego para o peso daquele olhar tirano, sempre tremendo ao sentir todas as minhas terminações nervosas despertadas ao seu mínimo toque. mas agora não, agora estou madura. assisto enquanto que ele me toma o corpo em suas mãos hábeis, desliza sua aliança pela minha mão esquerda, porque eu sei, eu sempre soube, que pertencia a ele. que pertenço. deixo que ele me tome. permito-me amá-lo sem ser violentada por ele.

20 de dezembro de 2002

RAPIDINHAS - RADIOHEAD

"please could you stop the noise
i'm trying to get some rest
from all the unborn chicken voices in my head
"


NOS POÇOS

quatro palavras: leiam caio fernando abreu.

"Primeiro você cai num poço. Mas não é ruim cair num poço assim de repente? No começo é. Mas você logo começa a curtir as pedras do poço. O limo do poço. A umidade do poço. A água do poço. A terra do poço. O cheiro do poço. O poço do poço. Mas não é ruim a gente ir entrando nos poços dos poços sem fim? A gente não sente medo? A gente sente um pouco de medo mas não dói. A gente não morre? A gente morre um pouquinho em cada poço. E não dói? Morrer não dói. Morrer é entrar noutra. E depois: no fundo do poço do poço do poço do poço você vai descobrir quê."
(in O Ovo Apunhalado. grifos nossos.)
EARTH VIEW

site perfeito praqueles dias em que a gente tem vontade de ver o mundo bem de longe. ah, sim, surrupiei deste blog.
MANIFESTO MASCULINO

tinha o firme propósito de não postar piadas aqui. foi uma regrinha que firmei pra mim mesma. mas regras foram feitas pra serem quebradas - é o que a duras penas está concluindo esta humilde estudante das ciências jurídicas. então, aí vai, uma que eu recebi estes dias.

"ASSOCIAÇÃO INTERNACIONAL DOS HOMENS COMPROMETIDOS - Sucursal Brasil

A AIDHC - Associação Internacional dos Homens Comprometidos, a qual engloba namorados, noivos, casados, etc., vem a público tentar diminuir a burocracia existente de forma constante no relacionamento homem-mulher, sendo este um problema de origem feminina, em virtude da sua natureza de interpretações equivocadas e parte de um pseudo-complexo de inferioridade de si mesmas, quer dizer, nunca estão satisfeitas...deixa pra lá.
Sendo assim, objetivando economizar tempo, dinheiro, e evitar as discussões inócuas e sem sentido, comunicamos o seguinte manifesto:

QUERIDAS MULHERES
1. Se você pensa que está gorda, é bem provável que você esteja certa. Não me pergunte. Me negarei a responder.
2. Se você não se veste como as modelos de roupa íntima, não espere que eu me comporte como os galãs das novelas.
3. Se você quer algo, peça. Dei xemos isto claro: as indiretas sutis não funcionam. As indiretas diretas não funcionam. As indiretas muito óbvias também não funcionam. Diga as coisas tal como são.
4. Se você faz uma pergunta para a qual não quer resposta, não se zangue ao ouvir o que você não quer.
5. Às vezes não estou pensando em você. Nada está acontecendo. Por favor, acostume-se a isto. Não me pergunte no que estou pensando, a menos que você esteja pronta para falar de temas como política, economia, futebol ou carros esportivos.
6. Domingo = Churrasco / Amigos / Esportes na TV. É como a lua cheia ou a maré. Não pode ser evitado.
7. Ir às compras não é divertido, e nunca vou considerar dessa maneira.
8. Quando temos que ir a algum lugar, absolutamente qualquer coisa que você vestir está bom. DE VERDADE.
9. Você tem roupa suficiente. Você tem sapatos demais. O choro é chantagem.
10. A maioria dos homens tem três pares de sapatos. O que faz você pensar que eu sirvo para decidir qual dos 30 pares que você tem vai melhor com aquele vestido?
11. Simples SIM e NÃO, são respostas perfeitamente aceitáveis para qualquer pergunta.
12. Venha a mim com um problema somente se você quiser ajuda para resolvê-lo. Para isto sirvo. Não me peça empatia como se eu fosse uma de tuas amigas.
13. Uma enxaqueca que dura 17 meses é um problema. Melhor ir ao médico.
14. Se algo que eu disse puder ser interpretado de várias formas e uma delas deixa você triste ou zangada, a minha intenção era dizer a outra.
15. TODOS nós homens vemos não mais do que 16 cores. O salmão é um peixe, não uma cor.
16. Onde eu tiver coceira, vou me coçar. Não importa quando, onde nem na frente de quem.
17. A cerveja nos emociona tanto como as bolsas a vocês.
18. Se eu perguntar se está acontecendo algo e a tua resposta for "nada", minha reação será como se nada estivesse acontecendo.
19. Que diabos é a cor fúcsia ? E mais: como diabos se escreve?
20. Não me perguntes "Você me ama ?" Tenha certeza de que se não te amasse não estaria com você.

POR FAVOR DISTRIBUAM ESTE MANIFESTO PARA O MAIOR NÚMERO DE MULHERES POSSÍVEL, ASSIM TALVEZ ENTENDAM OS HOMENS DE UMA VEZ POR TODAS. "


perdoem-me os leitores, mas diante desta singela declaração, lesbianismo começa a soar como uma opção aceitável.

RAPIDINHAS - FIONA APPLE

"he said it´s all in your head,
and i said, so´s everything
but he didn´t get it."
PROFECIA

na istoé desta semana, entrevista com fhc, que atravessa o epílogo de sua trajetória presidencial. entre as muitas informações interessantes, reminiscências. um encontro com lula e cristovam buarque em idos de 1998. pá, fhc diz pra lula, "vou te mostrar o palácio porque um dia você vai morar aqui". e arremata, na época, nenhum dos três presentes acreditava nisso. é, pois é. as voltas que o mundo dá.

19 de dezembro de 2002

FRASE DA SEMANA

tirei da veja dessa semana.

"foi meu pai que me ensinou o valor da honestidade. tudo o que eu não tenho devo a ele." (ciro pellicano, publicitário e escritor paulista)
VOLTANDO PRA CASA

estava voltando pra casa, depois de ir ao cinema hoje. onze e dez da noite. saltei do ônibus na prado júnior, atravessei a princesa isabel. na esquina para a gustavo sampaio, em frente a uma banca de revistas, avistei um menino mulatinho de uns cinco ou seis anos deitado na rua, dormindo. o dedão esquerdo na boca. o braço direito agarrado a algo que em um tempo distante devia lembrar um bicho de pelúcia. a cabeça sobre um travesseiro de bebê surrado e sujo. o corpo coberto por folhas de jornal. senti crescer em mim uma gana, um impulso de pegar pela mão, trazer pra dentro de casa, colocar pra dormir na minha cama, meus lençóis, meu travesseiro. dar todo o colo e carinho que eu não sei se ele teve na vida, que provavelmente não teve. e então é que a coisa me atingiu, essa noção límpida, cristalina. quão pouco nos separa, eu e aquele menino. e quanto. todos os abismos do mundo, desse mundo que nós construímos e de que somos vítimas. e a paz naquele rosto. com menos de um terço da minha idade, aquele menino já deve ter conhecido todas as dimensões do inferno de que não ouso me aproximar nem nos meus piores pesadelos. e ainda assim era criança, e ainda assim dormia.

afastei-me envergonhada pela minha própria covardia, pela minha fraqueza, pela pequeneza dos meus problemas que devem ser uma bela pilha de porra nenhuma perto do que ele atravessou, do que atravessa, do que vai atravessar. tomei o caminho de casa, porque eu tenho casa, com o peito ensanguentado pela injustiça da vida, por todas as linhas tortas desse deus que a gente inventa porque precisa de pai. não sei se aquele menino tem pai. se tem deus, então....

17 de dezembro de 2002

SEU NOME DEPOIS DE SACIADO, JAMAIS SACIADO

meu mundo desmoronou, e ainda assim permanece o mesmo. com um pouco mais de luz nas ruas talvez, agora que não resta mais pedra sobre pedra, e não há mais muito para fazer sombras. mas sinto falta do silêncio que antes preenchia minhas cavilosidades, onde antes seu nome não ecoava ensurdecedor. mas agora tudo ressoa, e tudo é harmonia dissonante, e eu aqui suando para encontrar sentido em cada uma das infinitas entrelinhas que se fazem presentes nas pausas da minha respiração. acho que é o som interferindo no meu senso de direção, ou é a falta de rumo criando essa música estridente transcendente, porque de repente sumiram do mundo as bússolas e as que sobraram não funcionam mais. porque nada me prende. não há nada de que eu tenha que me libertar. nada me dói. apenas seu nome, que pesa no meu peito, no meu sangue, no meu fundo, pesa em mim como o corpo de um amante depois de saciado, uma, duas, infinitas vezes. agora, ele dorme. mas ecoa. como ecoa.
DISCLAIMER

é, gente, a fabíola (aquela...) não me deixa escolha. preciso deixar isso claro. então saibam: esse blog não necessariamente compartilha das opiniões explicitadas nos comments. principalmente no que concerne quem pega e quem não pega bem. até porque, neste caso específico, a administradora desse blog ainda não teve a oportunidade de conferir por si mesma. e ainda que houvesse tido, não divulgaria suas conclusões neste veículo, porque como vocês bem sabem, come melhor quem come quieto no seu canto.

então, meninas, por favor, não me comprometam.
ÚLTIMOS FLASHES DA RAVE, PROMETO

fui cobrada, por isso registro. só por isso.

bem, tínhamos acabado de ultrapassar a entrada do sítio, olhamos ao redor, e aí, todo mundo junto? não. faltava um. o cara da cerveja no estacionamento. e cadê ele? é quando ao longe avistamos a figura correndo inabaladamente pela grama molhada, levando tombos monumentais, indo na direção oposta à das tendas, e parecendo o coelho que tinha pressa pressa muita pressa em alice no país nas maravilhas. isso enquanto o resto de nós planejava minimamente cada passo na vã tentativa de manter os pés limpos. e o outro alegremente chafurdando na lama silvestre. é, eu preciso arrumar amigos mais normais. pelo menos mais normais que eu. urgentemente.

outro. a cara dos indivíduos puxando um ronco no rio minho. pausa pra explicação: não tenho idéia de como alguém em sã consciência consegue dormir naquela porra, desgovernada a ponto de fazer o coletivo de velocidade máxima parecer ônibus escolar. mas enfim, meus amigos são surtados, então pula essa. bem, um indivíduo no nosso grupo pegou no sono com a cara na janela do ônibus. quilolitros de baba a inundar o vidro. não há sistema métrico no mundo capaz de expressar quantitativamente o tamanho daquela boca. acho que o próprio rio minho cabia ali dentro. e como deus é um cara sacana, quando alguém teve a brilhante idéia de jogar um m&m de amendoim dentro daquele buraco negro, pá, o cara acorda. droga. damn him.

mais uma. enquanto todas as outras pessoas no rio minho tentavam dormir, dormir, sonhar talvez, e economizar a pilha pra festa em si, meu grupo, eu inclusive, ria como um bando de hienas histéricas de praticamente tudo que se passava. alguém olhava pra gente, pá, gargalhadas. alguém deixava de olhar, pá, mais gargalhadas. celular de alguém tocava, meu irmão, muuuuuuito engraçado. alguém respirava em algum lugar do universo, risos, risos e risos, até as lágrimas. céus. queria saber por que quando a gente está feliz a vida subitamente se torna um especial non stop do saturday night live.

ah, sim, a fabíola (já que ela gosta tanto que os santos tenham nome) acha que o rio minho é melhor que carro. palavras dela: "carro não é tão boa idéia assim, levando em consideração o carro atolado na lama de duas meninas na rave. imagina a cena: cabelos desgrenhados, roupas estranhas, lama, carro atolado, 9 horas da manhã e fim de mundo chamado guaratiba" é, eu sou radical, e ouso divergir. não, não dá pra preferir rio minho. melhor estar descabelada, suada, atolada, com metade do pára-lama do carro ironicamente enterrado na lama do que apostar a vida no bus from hell. ah, sim, sugestão pra próxima bunker rave: por uma módica taxa adicional, seu ingresso vem junto com seguro de vida. mas não ia dar certo. seguradora nenhuma é estúpida o suficiente pra topar o risco do rio minho. o que provavelmente diz algo a respeito da minha pessoa, e dos meus amigos. porque, bem... nós topamos. deixa pra lá.

pronto. agora chega da rave. deu o que tinha que dar.

THE CANTERBURY TALES

não sei quem é o mais surtado: alguém que compra uma cópia de the canterbury tales no original para dar de presente de natal, ou alguém que recusa esse presente com um sorriso surpreso e com o comentário de, pô, já tenho, li, muuuuuuito bom.

cara, canterbury tales. do chaucer. uma das pedras angulares da literatura inglesa. quem além de mim num raio de cem quilômetros leu isso? e como pode alguém ter a idéia de me dar isso de presente? sou uma pessoa difícil de presentear. com livro, então... ô. e quando alguém acerta tão na mosca o meu gosto, assim, e de forma tão inadvertida... é comovente. mesmo.

como digo, sempre. as pessoas nunca deixam de me surpreender.
RAVE DE NATAL

mil flyers sendo distribuídos na rave. normal. e não é que vem parar nas nossas mãos um de uma rave christmas. a ser realizada do dia 24 para o dia 25 de dezembro. ou seja, véspera de natal. aguardem um instante, enquanto eu me estapeio pra ver se a perplexidade passa.

alguém me diga, por obséquio, quem é o mané que vai pra uma rave no natal? vejam bem, não discuto que natal é uma data deprimente. não discuto que em festa de família a gente nunca se diverte, que sempre tem uma tia gorda, um monte de crianças catarrentas, e alguém chorando porque outro alguém já morreu / está pra morrer / vai morrer um dia, tudo conspirando pra cortar o nosso barato. eu sei, eu sei, natal é uma merda. concordo. mas cara, na boa, abandonar os seus entes queridos e se meter numa rave na data mais importante do calendário cristão? isso é chutar o balde. mesmo que você não seja cristão.

rave de natal é a epítome do que há de mais deprimente nos tempos atuais. digo e repito: estou perdendo meus referenciais.

16 de dezembro de 2002

COMMENTS E E-MAIL

como vocês puderam perceber, desde sábado temos ferramenta pra comments. e link pra e-mail. palmas pro meu assessor, e pra sua paciência interminável com minha ignorância informática. e os insatisfeitos de plantão, aguardem, que quando estiver mais zen na vida, volto a tentar tornar essa joça um pouco menos tosca. pra eu ficar minimamente satisfeita, faltam os links na lateral, o contador de visitas e colocar os comentários em ordem decrescente em vez de crescente (como apontado pelo gustavo, com quem podemos sempre contar quando a alma clama por críticas construtivas). só tenham paciência comigo. um dia a gente chega lá.
MAIS DA RAVE

alguns flashes.

estacionamento do barra shopping. passageiros embarcados. rio minho se preparando pra zarpar. um amigo sente sede, resolve comprar uma cerveja de um daqueles ambulantes no lado de fora do ônibus. grita por um, uma, duas, três vezes, nada. uma amiga sugere, quer ver, grita viado, que homem é assim, quando você ofende a masculinidade eles olham rapidinho, e tal. imediatamente, duas delas põem a idéia em prática, em alto e bom som, talvez mais alto do que o planejado. TODOS os ambulantes do local, mais uns quinze passantes, rapidamente se voltam com ódio no olhar, investigando a origem dos gritos. as meninas se escondem, gargalhando, temendo serem linchadas. mas pelo menos meu amigo conseguiu a sua cerveja. agora, peço aos rapazes, por favor, expliquem este curioso fenômeno.

outro. meu grupo marcou um ponto de encontro, na frente de um cartaz gigante. como incompetência pouca é bobagem, pá, no meio da noite, olhamos para o local e percebemos que o ponto de encontro sumiu. deus do céu. acabamos designando outro, uma das casas do sítio, na esperança de que essa não acabasse evaporando também. porque nesses lugares, bem, tudo é possível.

mais uma cena bizarra: eu e uma amiga correndo loucamente de uma ponta a outra do sítio, em uma fuga desesperada de um dos nossos encostos recorrentes de bunker.

ah, sim, outra coisa. deviam ter me avisado pra levar umas barrinhas de cereal, umas garrafinhas de água mineral na bolsa. porque ninguém merece água a TRÊS REAIS. ah, e não sei se depois de tanto dançar a serotonina me subiu à cabeça, se fui só eu que vi, mas tinha um estande de sushi no lugar. SUSHI. numa rave. estou perdendo meus referenciais.

ATENDENDO A PEDIDOS

a rave. bem, pra quem não sabe, de sábado pra domingo, teve bunker rave. minha primeira rave. no sítio da medusa, em guaratiba. segundo me ensinaram, lá onde judas perdeu as calças, porque as botas, bem, estas tinham sido abandonadas vinte quilômetros antes.

fomos de ônibus, eu e meus amigos cronicamente atrasados. 175 básico pro barra shopping, porque era de lá que saía o ônibus para o evento em si, conforme explicado no flyer, no site, no jornal. dez reais, ida e volta. é, por esse preço, imaginamos, ônibus confortável, ar condicionado, bom amortecimento. ledo engano. ônibus velho, de linha. uma tal de rio minho. RIO MINHO! revolta de uma das moças do grupo, insatisfeita de pagar o que estava pagando em transporte para ir de rio minho e ainda por cima não poder fumar, como nos alertava um aviso toscamente escrito em giz na janela do ônibus, e que, desnecessário dizer, restou solenemente ignorado por pelo menos metade dos passageiros. foram uns bons quarenta minutos de piadas com este nome singelo. mais vinte rindo da inscrição na lateral do ônibus, "vá de ônibus, é mais seguro, é mais legal", consolo mal dado para os pobres mortais que como nós não foram de carro. porque não podiam, só por isso, porque só alguém com as faculdades mentais seriamente comprometidas troca o conforto de seu veículo pelo tal do rio minho. é, não tem jeito, não consigo me acostumar com esse nome.

chegando lá, mais alguns bons dez minutos de caminhada. na lama, porque tinha chovido antes. uma entrada que lembrava vagamente um curral. mais alguns minutos andando, mais lama a encharcar as barras das calças e os sapatos. e finalmente a tão esperada rave.

muita gente conhecida, mais uma penca de caras familiares, figurinhas tarimbadas pra quem vai a bunker praticamente todo o fim de semana. não chegamos a tempo de ouvir o dj que estava curiosa pra conhecer, o tal do anderson noise. minto, até chegamos. mas como estávamos atrasados, acabei na pista do amandio, que tocava na mesma hora, porque, bem, segundo minhas companheiras ravers, o amandio é deus. constatação altamente questionável, como fiz questão de registrar na ocasião, e como qualquer pessoa que o ouviu tocar por mais de duas noites seguidas poderá corroborar. mas enfim, acabamos na pista do homem, pra, pasmem, ouvir exatamente as mesmas músicas que ouço TODO santo fim de semana na bunker. necessário frisar isto: saio do conforto da minha casa, pego dois ônibus, total de duas horas pra chegar, atravesso mares de lama, tudo isso pra dançar numa tenda com chão irregular a estoporar meus joelhos, olhando para as mesmas pessoas, fugindo dos mesmos encostos, ao som das mesmíssimas músicas que danço todo sábado, e que até na pista três da bunker eu acho que estão pra lá de batidas. céus. vai entender.

(justiça seja feita. faltaram alguns dos encostos, graças a deus. não tinha o cara de camisa florida. ou tinha? mas também faltou o amor da nossa vida na pista de dança, companheiro necessário pra tornar o amandio minimamente tolerável. é, vocês sabem de quem estou falando.)

mas pra quem acha que eu não me diverti, bem, pense outra vez. me diverti demais. mesmo. o segredo nessas horas é apertar o botão de off do senso crítico na nossa cabeça, colocar no piloto automático e dançar dançar dançar, não importa se em tenda, em grama, em lama. cansou, dança mais um pouco. depois senta na grama. ou disputa uma almofadinha magrela com algum outro raver. e não me enche o saco. então, gostei, gostei muito. ah, e não fui só eu que me diverti horrores, sei de pessoas que se divertiram mais do que eu. os hematomas gigantes no pescoço de uma das minhas amigas, surgidos de um inesperado encontro com um fantasma do passado que, ao que parece, está vivinho da silva, são prova material incontestável desta afirmação. mas, enfim, acho que captei o espírito da coisa. nada mal pra minha primeira rave.

só queria ter ficado mais, porque não consegui gastar toda minha pilha. acabamos saindo de lá em torno de oito da manhã, o povo tinha que trabalhar no domingo. mais duas horas pra voltar. ônibus pro barra shopping. 175. e outro ônibus pra minha casa, porque tinha que pegar as minhas tralhas na casa de uma amiga. cheguei em casa com meu irmão saindo pra jogar o futebol domingueiro dele, pra ouvir o singelo comentário, mas que porra de roupa esquisita é essa?

*sigh*
HÓSPEDE INDESEJADA

eu tentei, juro. queria ter entrado e saído daquela moradia imensa que era a alma dele na ponta dos pés, usando pantufas, sem sujar os tapetes persas com minhas pegadas de pó. mas não, eu tive que colocar meu salto agulha mais alto e chegar de maneira triunfal, arranhando o piso de madeira de lei, fazendo cabeças se virarem na minha direção com admiração e inveja, logo eu, dona como poucas mulheres dessa qualidade, assim, tão sem sal nem pimenta. mas o tempo parou, e todas as atenções se voltaram pra mim dentro dele por um instante. e não, novamente, inúteis foram todas as recomendações da minha mãe, se comporte, não fale com estranhos, use os porta copos e os guardanapos, não provoque um homem para depois deixá-lo a ver navios. não, eu a teria feito se apressar por inventar desculpas e explicações, sabe o que é, ela está passando por uma fase difícil, não está acostumada com ambientes assim tão suntuosos. vislumbro o rubor que teria tomado o rosto de minha pobre mãe, quando aumentei o volume da música para além do limite do suportável, e estourei todos os tímpanos, os meus, os seus, os dele, os dos vizinhos. quando fumei quinze maços de cigarros e apaguei-os todos nas almofadas brancas dos sofás. quando deixei marcas de dedos nos espelhos, e entortei os quadros nas paredes. quando escapei do quarto de hóspedes que tinha sido preparado para mim, e, sem ser convidada, penetrei e me instalei faustosamente na suíte presidencial. quando derramei vinho e saliva e gozo nos lençóis de seda que forravam a cama do anfitrião. quando encontrei o objeto mais belo e mais raro e mais valioso e mais insubstituível no lugar, e no capricho de vê-lo de perto, tomei-o entre os dedos e permiti que ele me escapasse das mãos e se espatifasse, vertendo-se em mil pedaços coloridos espalhados pelo chão. e quando tentei, juro que tentei, sair de fininho, sem ser notada, mas tropecei na cauda ridiculamente longa do meu vestido, rolei escadarias abaixo e deixei nos degraus de mármore alguns litros do sangue que me escorreu pela testa.
algo me diz que não serei convidada para voltar.

15 de dezembro de 2002

SIDARTA

terminei de ler sidarta, do hermann hesse, pela terceira vez. define. especialmente pra mim. no saldo da leitura, uma singela conclusão, preciso ser mais iluminada na vida. esse mundo precisa de mais luz. principalmente nos olhos das pessoas.

"Mas não posso amar palavras. Por isso não me servem as doutrinas. Não têm dureza nem maciez, não têm cores nem arestas, nem cheiro nem sabor. Não têm nada a não ser palavras. Talvez seja essa a razão pela qual não encontres a paz: o excesso de palavras."

amém.

14 de dezembro de 2002

ÚLTIMA COISA SOBRE PI E O INFINITO, O DEFINITIVO E O EFÊMERO

pra responder a alguém que me disse ontem, legal, gostei, mas vai estar lá pro resto da sua vida.é, de fato, essa é a idéia. mas não era melhor que fosse temporária? talvez fosse. mas a finalidade é marcar o momento. esse momento. e não dá pra fazer isso com alguma coisa temporária.

talvez eu devesse evitar aquelas opções que tomam proporções definitivas. porque nada na vida é definitivo. mas também tem que tudo é. cada microssegundo que passa é um que não volta mais. quer mais definitivo que isso?

é só que eu estou com essa necessidade, de deixar isso tudo indelevelmente registrado no tecido da minha memória. definitivamente. pra eu não me esquecer mais. porque eu não quero me esquecer. porque vou me esquecer. porque tudo é efêmero. também.

mas que pelo menos fique indelevelmente registrado no meu corpo. já que talvez não fique na alma. pelo menos isso, então.
MAIS DUAS COISAS

fiz de tudo pra estar acompanhada. porque sabia que iria doer. que iria perder a coragem. que iria querer sair correndo na última hora. queria alguém pra me barrar na porta. pra segurar minha mão. e, vejam só, acho que o universo queria que eu fizesse isso sozinha. e deu uma vontade louca de fugir, mas não, rapaz. veja só, eu encarei. trinquei os dentes, fixei o olhar num ponto da parede e aguentei. eu encarei. ponto pra mim.

(o que não perdoa o fato de que quem iria segurar a minha mão me trocou por um cara chamado james. JAMES. o motorista. me trocar por um cara, vá lá. agora um chamado james... inadmissível. ovo nela.)

ah, e durante todos os minutos de dor interminável, o k computer, radiohead, em alto e bom som. porque enfrentar a dor sozinha, eu enfrento. mas ao som de cidade negra... jamais!

METÁFORA PARA O MODUS OPERANDI DA VIDA

ah, sim, infinito na nuca, pi na barriga, esse meu plano original. e tinha mudado de idéia. e depois abracei uma terceira opção. e depois que engatei a marcha, bem, devo ter mudado de idéia umas trezentas mil oitocentas e trinta e quatro vezes. e, vejam só, tudo pra acabar no exato ponto onde comecei. taí, reflitam: a vida opera em círculos, sempre em círculos. o que nos leva à idéia de completude, ao infinito e, também, a pi.

as pessoas têm estado confusas, mas deus do céu, por que pi? bem, muitos motivos. em parte pela explicação acima. ainda não foi suficiente? bem, pensem que é uma letra do alfabeto grego. e que representa um número irracional. que se subdivide infinitamente pra dentro de si.

e, amigo, se não bastou... tem outras razões, mas, bem, cansei de explicar. pense que eu acho que o desenho é bonitinho. ou que o meu professor de geometria na sétima série era um gato. só não me pergunte mais.
UPDATE

é, como a gente planeja incessantemente a vida, e quanto mais a gente planeja menos as coisas vão de acordo com os planos... o infinito acabou na nuca . e pi foi pra barriga. à esquerda. sempre à esquerda.

12 de dezembro de 2002

EXISTENCIALISMO

pra fechar: outra das minhas musas absolutas. só pra encher o saco de alguém que me disse hoje que odeia odeia odeia a dama. mas veja só, clarice é necessária. hoje em dia, dá pra viver sem nada, até sem comida, dá pra viver só de luz do sol. mas não dá pra viver sem clarice. necessidade fisiológica das mais básicas. vem antes do ar na listinha de prioridades. a alma clama por clarice.

vou despejar gotinhas dela aqui, aos poucos. porque pra aproveitar clarice a gente tem que ser tântrico. vai aí a primeira gota.

"Eu não tenho enredo de vida? sou inopinadamente fragmentária. Sou aos poucos. Minha história é viver. E não tenho medo do fracasso. Que o fracasso me aniquile, quero a glória de cair."
(in Água Viva. grifos nossos.)
LEIAM LYGIA FAGUNDES TELLES

"Quando acordei vi um diabinho montado no meu peito e outro no teto, dependurado no lustre. Coçava o ouvido com o rabo. Olhei para um, olhei para outro e não senti nem medo nem curiosidade não senti nada, absolutamente nada. Ausência de emoção de qualquer espécie, o oco. Inerte, branca, fiquei olhando e meu olhar era exaurido como um sol apagado, só memória do outro sol mas sem nostalgia. Sem sofrimento. O diabinho mais próximo viu minha indiferença e ficou de pé no meu peito, se desmanchando em caretas para me impressionar. Não me impressionei: tinha chegado o fim do amor e desse incêndio não restara pedra sobre pedra, osso sobre osso, Roma de trás para diante com letra por letra queimada e reduzida a carvão. Ora, que me importa, eu disse. Vocês aí, que me importa. Rolei a cabeça no travesseiro e minha cabeça era opaca sem o gorro de pedras fulgurantes que durou enquanto durou a aventura. Fiquei olhando a parede vazia, os olhos também vazios. Quando os abri de novo, os diabinhos já tinham ido embora, podia imaginá-los murchos, de rabo entre as pernas, saindo em fila do quarto. Perdi meus demônios, pensei. Infernizada, eu poderia voltar à luta reagir na cólera e quem sabe então a esperança, ei! onde é que vocês estão? chamei-os. Voltem, pelo amor de Deus, não me abandonem, voltem! A janela se abriu e o vento espalhou o punhado de cinza fria que restara no meu peito. O cheiro de enxofre foi desaparecendo."

(in A Disciplina do Amor. grifos nossos.)

CORAGEM

amanhã é dia de pi no pescoço e do infinito... bem, ainda preciso decidir onde vou enfiar o infinito. alguma sugestão?
FALA PRO CARA ALI NA ESQUINA

só pra constar: meu assessor para assuntos informáticos não gostou da alcunha que atribui a ele. disse que pobre coitado é a vó. que ele é mau muito mau terrível.

... tá então. alguém caiu?
PERSEGUINDO QUIMERAS

tem horas em que eu fico imaginando por que sempre acabo fazendo isso, construindo essas quimeras na minha cabeça peça por peça, tentando me convencer de que elas existem, de que estão a meu alcance. porque eu sei, eu sempre sei que elas não estão. mas não, eu sempre pago pra ver aquilo que eu sei que evapora ao toque, e inevitavelmente acabo de mãos vazias com a esperança sobrevivente transferida para a próxima rodada. penso nisso enquanto olho para você, para os seus olhos, esses olhos que sempre me falam tanto e sempre desviam dos meus. assisto você tentando me evitar a qualquer custo, você está sempre fugindo de mim. e eu tolamente perseguindo essas miragens que se deixam entrever furtivas no seu olhar. elas não me vêm por sede, ou calor, ou incessante repetição da paisagem, eu sei que não percorro desertos. elas me vêm porque eu as convoco, eu as conclamo, eu imploro por elas, pelas esmolas de nenhuma esperança que você me dá.

11 de dezembro de 2002

*SIGH*

chegando da faculdade com os cabelos molhados da chuva, as botas imundas de lama e uma gripe que vai me derrubar logo logo. ninguém pode com esse horário, aula terminando às onze e dez da noite. ONZE E DEZ. acho que estão querendo inaugurar o turno da madrugada, pra torrar mais dinheiro público pra oferecer um curso cujas aulas eles não vão dar mesmo. poxa, dá até pra superfaturar em cima do adicional noturno dos professores. por que não tiveram essa idéia antes?
AH, É.

ah, sim, os amigos que ainda não lêem isso aqui (a princípio porque ainda não divulguei) e cujos sites (bem melhores do que este, diga-se de passagem) não foram linkados neste blog, também não reclamem comigo, porque enfim, eu sou uma anta, ainda não sei fazer aquela listinha bonitinha do lado dos posts. eu não tenho culpa. reclamem com o pobre coitado que eu tomei pra cristo.
COMMENTS E E-MAIL

é, mané, você está pensando, ah, olha só, otária a mina, enchendo a boca pra dizer que vai dar a cara a tapa, e tal, mas não tem peito de colocar e-mail, ferramenta pra comments, porra nenhuma no blog, então fala sério, etc etc etc. de fato, não coloquei. isso se deve menos a minha hipocrisia do que a minha incompetência. sou uma anta tecnológica, incapaz de programar meu mísero vídeo cassete. mexer em template então... não dá. então, arregimentei um pobre coitado (a única pessoa que está lendo essa joça, acredito eu, além dos desavisados que acabam aqui porque tomaram o ônibus errado) pra me ensinar, ou arranjar quem me ensine. então, enquanto isso não acontecer, não me culpem. vão reclamar com ele.

ah, e se algum desavisado se candidatar... é, não tem jeito, não vai ter como me achar mesmo. esquece.
SÓ PRA CONSTAR

nada a ver, mas lembram dessa máxima pré-adolescente, pseudo lição de vida, de que, ah, se a vida te dá um limão, faça uma limonada e divida comigo? é, pois é.

tem limonada aqui não. nem suíça. é, amigo, tem que chupar o sumo direto do limão. e ninguém vai querer dividir com você. isso aí. você tá roubado.

10 de dezembro de 2002

AH, SIM, TAMBÉM TEM QUE...

percebi que estou muito neutra na vida. e isso é confortável. porque eu não sou fiel nem herege, direita nem esquerda, bonita nem feia. e mais: porque é preocupante quando até as pessoas que você não respeita têm mais coragem que você, porque, poxa, pelo menos alguma opinião elas têm. e você balançando as suas pernocas lá de cima do muro.

então chega. hora de levantar a bunda do sofá e dizer a que venho. mesmo que não venha (e provavelmente não venho) a muito. hora de dar a cara a tapa.

então é isso. que venham os tapas.
OK, ME RENDI

bem, o título diz tudo. eu me rendo. me convenceram. me convenci. atire a primeira pedra quem nunca alugou um ouvido relutante em busca de migalhas de aceitação. o post abaixo explica, a falta de auditório, sempre a falta de auditório. esta a motivação daquela que vos posta.

então, já tarde começo o meu blog. é, isso aí, começo justo agora que parece que todo mundo tem um, atenta para o fato de que o que todo mundo tem não deve ser lá muito bom. as unanimidades burras, coisa e tal. enfim. tenham paciência comigo. em troca, eu juro que tentarei não escrever apenas nos meus dias de limãozinho. mas vocês sabem, né? é justo neles que o auditório mais faz falta.
FALTA DE AUDITÓRIO

minha opção por me expressar é incoerente, pra que, se um sorriso incrédulo me toma os lábios a todo momento em que imagino se em algum lugar há alma capaz de me compreender? escrever para que, cara pálida? antes eu tivesse a consistência de deixar a minha insignificância presa dentro do peito, ali ela se esvai mais rápido, sem deixar marcas.

mas eu não; eu não me contenho, dou de ombros e insisto em deixar registro da minha presença no mundo. falo para as paredes, e ouço seus protestos resignada, nem elas concordam comigo. se o eco é uma das mais básicas necessidades humanas, eu talvez um dia alcance o nirvana, e me alimente apenas da luz do sol e da ressonância que minhas palavras produzem dentro de mim. senão, fazer o que, morro de fome, deste vácuo que não consigo extirpar da alma. morro por falta de auditório.