31 de outubro de 2003

AH, É

dormir.

30 de outubro de 2003

OQUENÃOFOIOSHOWDABETHGIBBONS

só digo isso: ainda bem que não desisti de ir nesse show. AINDA BEM. comprei o último, sim, o ÚLTIMO ingresso, no literalmente PIOR lugar do tim stage (alguém me esclareça, inclusive, por que o pior lugar de qualquer lugar é sempre junto dos sanitários), mas putz, valeu, valeu, valeu. a voz da criatura corta rasga estraçalha estilhaça o ar ao vivo, os arranjos de todas as músicas estavam muito superiores aos do album, e a mulher ainda é tímida. pode? simpática, até, de tão tímida. charmosa de tão tímida. destaque pra ela rindo, enquanto tentava conciliar microfone e cigarro nas mãos em um dos momentos do show. destaque pra ela deixando o microfone cair em outro. tudo de bom. a vontade era driblar os seguranças pra subir no palco e dar um abraço nela - o que, aliás, foi feito por mais de um, sim, você leu certo, MAIS DE UM fã. pena que não tenha sido eu. amei o show amei amei. solamento por quem não foi.

o que me lembra: gostei também da pirotecnia toda que fizeram no mam. quinhentas mil luzes coloridas e tendas espalhadas por todos os lados e uma emulação de praça de alimentação bem no meio de tudo. o evento todo me pareceu bastante estilosinho e muito bem organizado. não fiquei em fila, não fui maltratada só por ser estudante e ter pago metade do preço no ingresso, dava pra enxergar o palco e curtir decentemente o som inclusive do pior lugar (ou seja, do MEU), o público estava calminho e educado. rolaria de ir pra lá com o exclusivo fim de curtir o ambiente e morgar num dos pufes brancos enormes do estande promocional da petrobrás.

pois então, eu sei, eu sou a mais empolgada. mas gostei, então nada de ser blasé. tomara que esse festival não acabe seguindo a sorte do free jazz. porque só por ontem, já merece o repeteco. e amanhã ainda tem white stripes.
...

"Ó dia de hoje, ó dia de horas claras
Florindo nas ondas, cantando nas florestas,
No teu ar brilham transparentes festas
E o fantasma das maravilhas raras
Visita, uma por uma, as tuas horas
Em que há por vezes súbitas demoras
Plenas como as pausas dum verso.

Ó dia de hoje, ó dia de horas leves
Bailando na doçura
E na amargura
De serem perfeitas e de serem breves."


(Sophia de Mello Breyner Andresen, poetisa portuguesa)

29 de outubro de 2003

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putaquepariuessecaralho.

(esse vocábulo singelo não é meu, é dele. mas ecoa dentro de mim nesse instante. não dormir me azeda. gente no meu caminho depois de não dormir também. gente sem nenhuma noção, então, ô.)

28 de outubro de 2003

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você me pede sabendo sem saber whatever. você me pede que desacelere com tantas palavras sem palavra nenhuma. na dúvida, desacelero. você deve saber o que pede mesmo que peça sem saber e com palavras sem palavras. você deve saber o que pede. atendo.
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e às vezes quando me preparo para passar a quinta marcha e acelerar acelerar acelerar estrada adentro e me atirar no caminho sem restrições sem amarras sem reservas, é exatamente então que o universo coloca uma imensa placa na margem me lembrando que, há, sim, um estrito inignorável limite de velocidade para a vida e curvas sinuosas perigosas suicidas à frente e muitos e muitos quebra molas ansiosos por sabotar o meu amortecimento e que não não não eu não quero me atirar sem reservas se me atirar sem reservas será a colisão o desastre a tragédia. há, sim, um limite de velocidade, e o universo me lembra, sempre que me esqueço o universo me lembra, que só vale a pena ultrapassá-lo quando o universo resolve esquecer de me lembrar. caso não, pé no freio e respeito às leis de trânsito aos pedestres ao meu veículo aos veículos que seguem meus sentidos aos outros veículos que seguem os sentidos contrários. à estrada, a seus limites. respeito sagrado sepulcral solene aos meus sentidos. aos sentidos contrários. e aos limites de todos os sentidos.

27 de outubro de 2003

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percorro um caminho de pedras molhadas escorregadias inseguras, e cada pedra do caminho que percorro pode desaparecer, ceder diante do peso do meu corpo, então será cair, cair de novo, ser atirada ao nada de novo? sinto no corpo no sangue nos ossos a incerteza de cada um de meus passos mas ela não me impede de prosseguir no percurso nem me rouba o fôlego a atenção o deslumbramento da paisagem. percorro. se cair, então serei eu atirada ao nada de novo e buscando a paisagem no nada de novo. e encontrando. percorro. e me deixo ser acariciada pela paisagem que me envolve sem me agarrar a ela.
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"god knows how i adore life
when the wind turns on the shores lies another day
i cannot ask for more
when the time bell blows my heart
and i have scored a better day
well nobody made this war of mine
and the moments that i enjoy
a place of love and mystery
i'll be there anytime"

26 de outubro de 2003

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e é isso o mundo, esse silêncio entrecortado pelos sons aqui dentro do meu peito. o mundo é silêncio entrecortado pelo som que carrego comigo. pela minha música que não entendo e que ouço. o mundo é silêncio entrecortado pelo impronunciável que pronunciamos de novo. e de novo. e de novo. o silêncio e os meus gemidos. de prazer, de dor. o mundo é isso.
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e ouço o silêncio do mundo nos espaços deixados entre uma batida e outra dentro do meu peito. o silêncio entrecortado pelos ruídos todos os ruídos ensurdecedores dentro do meu peito. e é música, não é música? é música. percussão, percussão pura, não é você quem gosta? talvez você goste da música dentro do meu peito. encoste o ouvido, ouça, é música, não é? se for, é sua, deve ser sua. quanto a mim, não entendo, não tenho a capacidade de entender, pra mim é percussão, não entendo, não entendo. se é música, é música sua, não é música minha. é você que produz esse som, não eu, não eu. você. essa música se for música é música sua. é sua. mas ouço. ouço tudo isso que tenho dentro do peito e tudo isso que existe nos espaços de silêncio do mundo. ouço.
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a girl half in love half out of love can only hope to not be torn in halfs someday. and it's anyday now.
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a glória tem a cor dessa sua fé em mim que eu queria que também fosse minha que não pode ser minha que só é minha quando estamos juntos. a glória tem a cor da sua fé.
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there's only hope, i can only hope cause i'm just a girl half in love half out of love and i can only hope to be whole again for the first time to not be divided ripped torn in halfs anymore one day someday anyday now. now, maybe. maybe now. it may be now. now.
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a glória tem a cor do pó de ouro no fundo do seu olhar e o aroma sutil da curva do seu pescoço e o timbre da sua voz quando você diz com ela todas as coisas de mim em que eu quero acreditar em que não acredito porque não posso porque sou incapaz de acreditar o tempo todo em tudo que só faz sentido quando vislumbro o pó de ouro no fundo do seu olhar. a glória tem a cor dessa sua fé em mim que eu queria tanto tanto tanto que fosse minha, tenho mais fé em mim quando me vejo refletida no pó de ouro do fundo do seu olhar. gosto mais de mim quando me vejo refletida no pó de ouro do fundo do seu olhar. e é amor, isso, é amor? cheira a isso, soa a isso, tem a textura disso, então deve ser isso, deve ser amor. deve ser amor. deve ser.
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e se sou só eu repetindo meus velhos padrões, então estou apenas me repetindo, estou sempre me repetindo, sempre me repetindo. mas talvez deixe de me repetir em breve, e então, não seria a glória? a glória dizer finalmente algo de novo, estradas novas, palavras novas, coisas novas dentro do peito em vez de tudo aquilo que já há muito me cheira a mofo. but there's only hope, i can only hope cause i'm just a girl half in love half out of love and i can only hope to be whole again for the first time to not be divided ripped torn in halfs anymore one day someday anyday now. anyday now. torcer por tudo novo, não tudo de novo mas tudo novo. tudo novo, tudo novo, tudo novo não seria a glória? seria a glória.
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there's only hope.
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cresci demais pra caber nos meus velhos padrões, é isto? me diga, deus, é isso? por favor.
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é amor isso que une os cacos do mosaico.
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é só colocar o mundo no microscópio. o amor está lá. nós é que não vemos porque somos incapazes, somos incapazes. incapazes. mas é só colocar o mundo no microscópio. o amor está lá.
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e o amor, o amor surge nas entrelinhas. nos espaços em branco. na vida não há espaços em branco não há não há. só há amor, só amor. amor unindo os retalhos da vida. amor são as entrelinhas os remendos as costuras de fio duplo da vida. amor é o que une os cacos do mosaico. é tudo amor. o amor está nas entrelinhas. é só olhar de perto bem de perto muito de perto. olhe.
...

i'm just a girl half in love half out of love.
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a girl half in love half out of love can only hope, i guess. and i guess it's amazing, this is amazing. the incredible unbelievable amount of love that can emerge from the absolute lack of love. from the void of every other love that is not, that isn't anymore, not anymore. from the spaces that exist in between the absence of love. it's amazing, i guess. but a girl can only hope. only hope.
...

nothing here fits me anymore, something else fits me and it's not here. not here. somewhere else, then. somewhere anywhere must fit me. somewhere else fits me best. somewhere else must fit me best.
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you can force it but it will not come
you can taste it but it will not form
you can crush it but it's always here
you can crush it but it's always near
chasing you home
saying
everything is broken
everyone is broken
why can't you forget?
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e se meu aquário se partiu, me afogarei sem água parada e suja e turva onde não obstante mal ainda conseguia respirar de alguma forma? morrerei sufocada? ou será que não, será que alguém me verá agonizando e me conduzirá até alguma poça de água mais limpa onde possa não agonizar ou agonizar menos, oxalá possa eu agonizar menos em algum outro lugar? alguma poça mais limpa, alguma fonte, oxalá seja uma fonte. ou será que meu aquário se quebra quando já estou em alguma fonte que não vislumbro porque a água turva do aquário quebrado ainda não se dissipou e se for será que se dissipará, será que já estou numa fonte limpa que tornei turva com a água turva do meu aquário quebrado, eu estrago tudo, eu sempre estrago tudo, não é, e talvez tenha de novo estragado tudo a fonte limpa mas não mais limpa porque a sujei, pouco importa, nada importa, desde que eu consiga respirar nela ainda que tenha ainda que agonizar, eu agonizo sempre de qualquer e toda maneira, pouco importa, nada importa, desde que eu possa respirar sobreviver ainda que agonizante. ou talvez apenas talvez meu aquário se quebre porque já não posso mais respirar na água turva, porque agora talvez precise de ar porque talvez sempre tenha precisado de ar. ar. e talvez meu aquário se quebre fora d'água apenas porque tão somente porque eu só agonizava pela água turva do aquário pela falta mais completa e absoluta de algum ar. e talvez eu só agonizasse porque achava que respirava enquanto me faltava o ar. talvez eu só agonizasse porque buscava água turva e não ar para respirar. e agora talvez não me falte mais ar agora talvez eu deixe de agonizar oxalá não precise mais agonizar oxalá eu possa não agonizar mais. porque já agonizei tanto. já agonizo.
...

o consolo, o maior consolo, é encontrar meus padrões no fundo do armário, meus padrões velhos gastos usados em trapos que se despedaçam, se despedaçam. meus padrões em trapos que não mais se sustentam, e que talvez provavelmente em breve muito breve não tenham mais uso ou destino, e então, fim, e então lixo. tecidos frágeis tão antigos que se esfacelam ao toque. e lixo. e estradas já percorridas talvez muito provavelmente serão estradas que já não posso mais percorrer porque serão estradas para as quais fiquei muito larga, too large, too large. estradas que não me cabem, they don't fit me anymore. e meus padrões minhas estradas os círculos em que caminho meus ciclos viciosos rompidos, todos rompidos, e lixo, são todos lixo, vão todos para o lixo. para o lixo. meu aquário partido, partido. despedaçado. broken. everything is broken.
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tanta coisa presa no peito, tanta. as muitas verdades que me caem na cabeça enquanto me estico toda para tirar do fundo mais fundo alto escuro esquecido do armário algo de que (me dou conta) não mais preciso. verdades me acertam em cheio, me machucam, me tiram algum sangue, mas pouco importa, porque pouco importa. pouco importa. porque agora eu sei. que sacrifico tudo a troco de nada, que busco tudo aquilo que já não me faz falta, que persigo incessante incansavelmente tudo aquilo que já não quero. que já não quero. sacrifico tudo. a troco de nada. tudo para nada, nada, nada. mas tomara que já não tenha sacrificado tudo, tomara que ainda reste alguma coisa. porque agora eu sei. que sou eu repetindo meus velhos usados gastos padrões.
LABIRINTO

"Sozinha caminhei no labirinto
Aproximei meu rosto do silêncio e da treva
Para buscar a luz dum dia limpo."


(Sophia de Mello Breyner Andresen, poetisa portuguesa)

24 de outubro de 2003

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mas passa.
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sensação básica de hoje é um puta saco cheio. não, de nada específico, sim, de um monte de coisas específicas. saco cheio do mundo, dos padrões que as pessoas insistem insistem insistem em repetir repetir repetir passando a mão na própria cabeça enquanto fazem MERDA dizendo mas eu sou assim mesmo e não tem outro jeito e quem desgostar que desgoste porque não tem nada que eu possa fazer. e PORRA NENHUMA. raiva muita raiva de mediocridade se justificando através de mais mediocridade. monte de manés. and so people keep taking you for granted. e o momento é de muito saco cheio disso. momento de muito pouca fé na humanidade. muito pouca. e vontade de só ver o mundo de muito muito longe.
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and people keep taking you for granted. so what else is new?

23 de outubro de 2003

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estou sempre me repetindo, sempre me repetindo. mas não escrevo mais para você. amo você, mas deixo de escrever pra você. porque não é mais a sua mão na minha goela. não é mais a sua ausência a sua dor a sua mais absoluta miopia o que me atormenta o que me dói o que me pesa no fundo do meu fundo. não é mais para você que direi minhas verdades aos berros exigindo pedindo implorando por favor por favor por favor me ouça tudo o que eu queria é ser ouvida realmente ouvida ouvida por você. porque não é mais a sua mão na minha goela, porque não é mais mão nenhuma na minha goela, porque em breve será alguma outra mão na minha goela, alguma outra que não a sua, alguma outra e não mais a sua. porque amo você, mas não amo mais você. porque não escrevo mais pra você, apesar de estar sempre me repetindo. então. não me repito mais pra você. amo você, mas essas linhas agora são minhas. minhas. não me repito mais pra você.
EIS-ME

"Eis-me
Tendo-me despido de todos os meus mantos
Tendo-me separado de adivinhos mágicos e deuses
Para ficar sozinha ante o silêncio
Ante o silêncio e o esplendor da tua face

Mas tu és de todos os ausentes o ausente
Nem o teu ombro me apoia nem a tua mão me toca
O meu coração desce as escadas do tempo em que não moras
E o teu encontro
São planícies de silêncio

Escura é a noite
Escura e transparente
Mas o teu rosto está para além do tempo opaco
E eu não habito os jardins do teu silêncio
Porque tu és de todos os ausentes o ausente"


(Sophia de Mello Breyner Andresen, poetisa portuguesa)

22 de outubro de 2003

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não quero tudo de novo. quero tudo novo.
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terror de ter que me perder de mim para encontrar você. terror de acabar por fazer tudo de novo, porque não, não, não quero tudo de novo. não quero não posso não tenho forças para me perder de mim de novo, seria o fim de novo, o fim, me perder de mim. de novo. e não tenho mais forças pra isso, não tenho. não tenho. não posso mais me perder de mim. quero me encontrar no caminho para encontrá-lo. quero tropeçar em mim enquanto me dirijo a você, quero a surpresa a felicidade a iluminação de encontrar meu próprio rosto enquanto persigo o seu. não quero me perder em você. quero me encontrar em você. senão seria tudo de novo, me perder em você para depois ter que me encontrar sem você, tudo de novo, tudo de novo, tudo de novo, eu e as estradas que já percorri e que não quero percorrer de novo mas que acabo sempre percorrendo de novo, e de novo. e de novo. e de novo. e eu não quero tudo de novo. não não não, não quero tudo de novo. quero tudo novo.

21 de outubro de 2003

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abismos se anunciam no horizonte. se aproximam. preparo o mergulho.
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"Uma rosa só são todas as rosas
e esta aqui: ágil vocábulo
o único, o perfeito
emoldurado pelo texto das coisas.

Como dizer sem ela
o que foram nossas esperanças
e em meio à constante errância
os momentos ternos e breves."


(Rainer Maria Rilke, poeta alemão.)

20 de outubro de 2003

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a rosa e o om me doeram, me custaram mais do que pi e o infinito, em todos os sentidos. foram conquistados, por assim dizer. e dessa vez eu tinha ali quem me segurasse a mão. pelo menos isso.

fotografaram pra mim todo o processo. colocarei uma parte no ar, no futuro próximo.
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quando os abismos se anunciam no horizonte, surge pra mim o imperativo categórico de me atirar neles, é a conclusão a que venho chegando. mas calma, menina, calma, porque o segredo, o que preciso aprender, é talvez a me atirar com alguma graça, para cair de leve, assim feito pena, assim feito pluma, sem atingir desde logo o chão sem me espatifar de imediato sem me dividir em mil pedaços de novo antes mesmo que o caminho tenha que terminar. porque o caminho sempre termina, não é? e eu sempre me espatifo, não é? eu sempre me espatifo. e o caminho sempre termina antes do que deveria pra mim, porque me jogo de cabeça de olhos fechados como se ganhasse quem chega primeiro. e não ganha. não ganha. ninguém ganha. o prêmio, o prêmio é o caminho.

abismos se anunciam no horizonte.
AS ROSAS

"Quando à noite desfolho e trinco as rosas
É como se prendesse entre meus dentes
Todo o luar das noites transparentes,
Todo o fulgor das tardes luminosas,
O vento bailador das Primaveras,
A doçura amarga dos poentes,
E a exaltação de todas as esperas."


(Sophia de Mello Breyner Andresen, poetisa portuguesa)

17 de outubro de 2003

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"Cavalgar, cavalgar, cavalgar, pela noite, pelo dia, pela noite.
Cavalgar, cavalgar, cavalgar.
E a coragem tornou-se tão lassa e a saudade tão grande. Não há mais montanhas, apenas uma árvore. Nada ousa levantar-se. Cabanas estrangeiras agacham-se sequiosas à beira de fontes lamacentas. Em nenhum lugar uma torre. E sempre o mesmo aspecto. É demais, ter dois olhos. Só à noite, às vezes, pensa-se conhecer o caminho. Talvez à noite tornemos sempre a refazer a jornada que penosamente cumprimos sob o sol estrangeiro? Pode ser. O sol é pesado como, entre nós, o pleno estio. Mas foi no estio que nos despedimos. Os vestidos das mulheres brilhavam longamente sobre o verde. E agora há muito tempo que cavalgamos. Deve ser, pois, outono. Pelo menos lá onde triste mulheres sabem de nós."


(Rainer Maria Rilke, poeta alemão)
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mas chega de falar de viagem caída. vou dormir e comer pão de queijo e tomar café e atualizar meu ioga. e daqui a pouco volto pra falar do tio rilke, que me fez companhia nas noites geladas e solitárias dos últimos dias.
...

em tempo: além de *sigh* saudáveis, os últimos dias foram *sigh* produtivos. terminei de ler dois livros, e cheguei na metade da releitura de outro. pra vocês verem como curitiba me entreteu HORRORES: eu tive dias produtivos. EU. dias produtivos. PRODUTIVOS. NÃO NÃO NÃO. subverteram-se todas as leis do espaço-tempo. não é à toa que deu uma azedada.
...

também tem que estou me sentindo uma monja franciscana. em curitiba, só vi congresso, mato, congresso, mato. repressão muito pouco saudável da minha necessidade fisiológica de perder a linha. eu tentei, eu tentei, mas o universo não conspirou. no saldo, ficou a impressão, cidade jeitosa, umas pracinhas bonitinhas, muita consciência ambiental. mas meio caída. meu coração de ser essencialmente urbano grita esperneia implora por poluição sonora e visual e mental e física. grita por contrastes. por excessos. sim, porque enquanto estava por lá eu dormia saudáveis sete horas por noite e fazia três refeições diárias. ou seja: monja franciscana. mas chega. voltarei a minha rotina de dormir pouco ou nada e me alimentar de pouco ou nada, e CHUTAR MUITO O BALDE. preciso de desequilíbrio ASAP.
...

voltei, mas ainda estou num humor meio esquizofrênico. reativa. azeda. dá nisso, overdose de juridiquês. e abstinência de ioga, pão de queijo, música e café que prestem. mas acho que isso muda hoje.
...

voltei. acho.

10 de outubro de 2003

BUT I'M STILL FOND OF YOU

é, ficarei um tempo fora daqui. no meio tempo, estarei me empanturrando no casamento de algum desconhecido. e tomando uma overdose de juridiquês. e batendo pernas numa cidade estranha. aliás, alguém sabe o que existe de decente pra fazer em curitiba?

vai ser conveniente mudar de ares por agora. se sentir saudades, postarei de uma lan. se bem que, sei não, acho que nem. mas volto logo. até lá, fiquem sentadinhos e retesados na pontinha de suas cadeiras de rodinha aguardando ansiosamente meu retorno. issaí, é assim que eu gosto. bons meninos.

8 de outubro de 2003

...

"i'm so tired of playing
playing with this bow and arrow
gonna give my heart away
leave it to the other girls to play
for i've been a temptress too long

just give me a reason to love you."

7 de outubro de 2003

...

vejam bem, isso aqui às vezes é escrito com sangue. acho que às vezes as pessoas não se dão conta disso. isso aqui é meu sangue. não é passatempo. também não é literatura, abandonei a pretensão de fazer literatura junto com a de deixar minha marca no mundo (*sigh*), e com outras aspirações estúpidas que só se justificavam (se em algum momento realmente se justificavam) nos estágios iniciais e megalomaníacos da minha longínqua adolescência. e não, não, não. só quero dizer, só isso. então leiam, não leiam, gostem, não gostem, whatever. mas saibam: isso aqui é sangue. sou eu. saibam disso.
...

(mas a trilha sonora do momento é outra. é essa aí. word by word.)

"storm in the morning light
i feel
no more can i say
frozen to myself

i got nobody on my side
and surely that ain't right
surely that ain't right.

oh, can't anybody see
we've got a war to fight
never found our way
regardless of what they say

how can it feel this wrong?
from this moment,
how can it feel this wrong
?"
...

still i can't close my eyes. i'm seeing a tunnel at the end of all these lights. why does it always rain on me?

(... e eu copio seu post, moça. aliás, quem disse que você podia roubar a MINHA música de fossa? agora, sério: espero que você esteja num lugar melhor que o meu agora. beijo.)

6 de outubro de 2003

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e seguir. me render ao instinto inelutável de seguir. cambaleante a princípio, hesitante a princípio, sem vontade a princípio. um instinto sufocado pela casca de sangue coagulado da dor que ainda não passou. que vai passar. que não passou. até não mais. seguir sem fôlego. mas seguir.
...

minha capacidade de amar é testada a cada passo. e eu passo. é o inacreditável. eu passo.
...

continuo doída, uma dor agora coagulada. vazia. aguardo o inevitável, a dor ser absorvida pelo cotidiano, o cotidiano escolher por mim o agora em diante, o caminho resolver aonde vai por si só. mas aguardo sem muita força pra reagir, pra lutar, quero ir sendo junto com as coisas até não mais precisar ser. deixei de reagir. que o caminho me leve para a solução que julgar melhor, não tenho mais força pra agonizar, pra reagir, pra gritar berrar chorar. pra querer morrer. querer morrer é um esforço descomunal, rejeitar a vida o impulso de sobrevivência o instinto primordial da espécie é um esforço descomunal hercúleo. lutar contra a veia mais forte da existência, lutar contra minha própria ânsia de autopreservação. esforço descomunal. e chega. não tenho mais força pra isso. ainda sangro uma lenta preguiçosa paciente hemorragia interna. e a dor agora me dói estática paralisada paralisante inexorável. o que dói cai sobre mim com a fatalidade do destino que é a personagem mais forte de qualquer tragédia grega. e minha dor cai sobre mim com o peso a pompa a solenidade daquilo que é trágico, daquilo contra o qual não quero não posso lutar. dou o braço para o destino e aguardo que ele me leve ao caminho mais adequado. não é assim que se faz, assim que deve ser? fé nas linhas tortas divinas. fé no universo. amar a vida quando ela te derruba, amar a vida principalmente quando ela te derruba. amar profundamente o seu algoz. meu único algoz é ela, a maldita. e eu não a amo de novo ainda mas não tenho mais forças para o sobre humano de rejeitá-la. não tenho. e dou o braço pra ela, ela vai me reconquistar em breve, eu sei, ela é irresistível e eu sou fácil. e em breve vou amá-la de novo. que jeito? minha capacidade de amar é testada a cada passo, e a cada passo é surpreeendente que eu passe. é o inacreditável.

5 de outubro de 2003

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minha capacidade de amar é testada a cada passo.
...

a sensação é essa. de que tenho minha capacidade de amar testada a cada passo. e às vezes eu não passo. e às vezes eu não queria passar nunca. o mal de amar as pessoas é abrir o peito pra elas matarem um pedaço de mim, e elas vão matar, cedo ou tarde elas vão matar. cedo ou tarde vai ser isso aí, elas vão me decepcionar. e para que, cara, para que? para que. e nessas horas eu tenho vontade de fechar portas e janelas, colocar uma plaquinha de vende-se na fachada, e sair sair sair, e só deixar vácuo ali onde quem quer que seja pense em me procurar. e me trancar numa ostra, e praticar meu ioga, e meditar, e viver de luz do sol e do meu fluxo interior que já é tão tão tão forte quando as pessoas não insistem em se meter nele. que já é forte o suficiente mesmo quando as pessoas não se metem nele. a vida já me dói suficiente sem que as pessoas ajudem a doer mais. a vida já me dói o suficiente. mais do que o suficiente. bem mais. mais.
...

a sensação é que o universo testa a minha capacidade de amar a cada passo. e minha vontade é gritar de volta, eu não sou tão forte assim, ouviu? eu não sou tão boa assim. eu não sou capaz de amar para além de certas coisas. eu sou pequena, eu sou mesquinha, e eu preciso ter importância para as pessoas, eu preciso ter para elas a importância que eu dou a elas. e eu dou tanta. e porra nenhuma. o tanto que eu amei e não me amaram. e eu não tenho a capacidade de amar para além de certas coisas, eu sangro, tá? eu não sou tão boa assim. eu não sou tão grande assim. eu sou mesquinha, pequena, tudo me dói, tudo me atinge. eu não sou nem um pouco grande. não me teste naquilo que eu não vou passar. não me teste, ouviu, deus? não me teste. eu não sou tão grande assim.
...

"and i'm bleeding, and i'm bleeding,
and i'm bleeding right before the lord
all the words are gonna bleed from me
and i will think no more
and the stains coming from my blood
tell me go back home"
...

e foda-se. vou chorar até não ter mais o que chorar e dormir até não ter mais o que dormir. e já amanheceu, já é outro dia, daqui a pouco vai ser outro dia aqui dentro também. e vou chorar até não ter mais o que chorar e até não fazer mais diferença. até que foda-se. foda-se.
...

"Chorar por tudo que se perdeu, por tudo que apenas ameaçou e não chegou a ser, pelo que perdi de mim, pelo ontem morto, pelo hoje sujo, pelo amanhã que não existe, pelo muito que amei e não me amaram, pelo que tentei ser correto e não foram comigo. Meu coração sangra com uma dor que não consigo comunicar a ninguém, recuso todos os toques e ignoro todas tentativas de aproximação. Tenho vergonha de gritar que esta dor é só minha, de pedir que me deixem em paz e só com ela, como um cão com seu osso.

A única magia que existe é estarmos vivos e não entendermos nada disso. A única magia que existe é a nossa incompreensão."


(Caio Fernando Abreu, tornando meu inexprimível um pouco menos inexprimível. chorar pelo muito que me amei e não me amaram, pelo que tentei ser correto e não foram comigo. chorar pelo ontem morto, pelo hoje sujo, pelo amanhã que não existe. pelo futuro em que eu não acredito, porque agora é tudo que tenho, e agora dói dói tanto. pelo tanto tanto tanto que amei, e não me amaram. pelo tanto que amo, e não me amam. e não me amam. não me amam. e chorar por isso. e foda-se. e daqui a pouco não vai mais fazer diferença. foda-se.)
...

e as pessoas são humanas, não são? as pessoas erram, não erram? erram. mas é a gratuidade do erro o que dói. tudo tão desnecessário, tudo tão insignificante, tudo tão descartável. tudo tão gratuito. é a gratuidade do erro, isso o que dói mais forte, isso o que dói talvez além do remediável. putz, e dói. e sim, são pessoas, são humanas, sim, eu sei, são. sim, eu sei, erram. mas putz. até pra errar a gente deveria errar direito. senão não tem sentido, senão é descaso, senão, senão, senão. sintam-se à vontade pra serem humanos. mas só sejam desumanos na medida do necessário, é só isso que peço. não é tanto. mas agora não peço mais nada. what's the use, no use. não tem por que pedir o que não acredito mais que vá conseguir. que me dêem o que ofereço, nem mais, nem menos? pedir isso? pretensão minha. não vou conseguir, não vou pedir, what's the use, no use, no use at all. não vou pedir. resta saber se ainda serei capaz de oferecer o que não mais peço. what's the use? é o que me resta descobrir. só isso.
...

depois de determinadas coisas, a pergunta é, what's the use. quase ninguém vale o desgaste que gera. diria que ninguém vale, mas isso seria por demais pretensioso da minha parte: o fato é que não conheço todas as pessoas no mundo. mas até hoje não conheci ninguém que valha, é fato. o duro é insistir, continuar colocando aquilo que eu tenho de mais valioso nas mãos dos outros, mas céus, menina, você não aprende? ainda não pisaram o suficiente? será que se cuspirem, se rasgarem, será que assim cai a ficha? caiu a ficha, caiu. quase ninguém vale o esforço, so what's the use? no use. e depois que quebram, pisam, rasgam, cospem naquilo que eu tenho de mais valioso, não tem nada do mundo que conserte. nada. esse o consolo. depois que foi, não tem remédio, e porque não tem remédio, não vai acontecer de novo. depois que foi, foi, não volta. foi. a dúvida é saber se foi. não sei. algo me diz que sim, mas quem diz isso é a parte que sangra. quem sabe um dia eu não saiba. quando eu parar de sangrar. quando parar de sangrar, talvez eu saiba. agora sangra. mas passa. and the use... no use. nada além do consolo murcho de saber que depois de todas as tempestades e naufrágios, o que fica de mim em mim é cada vez mais essencial e verdadeiro.
REPETIR COMO UM MANTRA

difícil ter fé no universo nos exatos instantes em que ele puxa o seu tapete. ironicamente, esses são os exatos momentos em que essa fé se afigura essencial. então, fé no universo. fé no universo. fé no universo. o universo protege e tudo passa e tudo é pro melhor. tudo é pro melhor. tudo é pro melhor. e passa. fé no universo, passa. passa. e enquanto não passa, fé no universo, que vai passar. vai passar.

4 de outubro de 2003

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< limãozinho mode >

é, acho que eu sou difícil mesmo. ou isso, ou os homens andam muito sem noção. porque, na boa, não está dando. não está dando. NÃO ESTÁ DANDO. estou quase no ponto em que pintar uma plaquinha de madeira com um singelo "por favor, não chegue em mim" pra pendurar no pescoço na hora de enfrentar a pista de dança soa como uma boa idéia. e isso é SÉRIO. há até algum tempo atrás, tinha uma vaga desconfiança de que já andava com essa mensagem implícita saltando das entrelinhas da minha testa. só que dia após dia noite após noite e muito muito gradualmente o universo de novo e de novo me convence do contrário. ando sendo submetida em freqüência cada vez maior a situações mais e mais esdrúxulas.

o interessante é a verificação incontestável da absoluta incapacidade masculina para captar os sinais de que uma mulher não está interessada. não é tão difícil: a maioria deles não poderia ser desconsiderada nem mesmo por um chimpanzé lobotomizado em fase de negação. enfim. então, rapaz, aqui vão algumas dicas pra você perceber facinho que está perdendo tempo, e que já passou da hora de levar seu bode pra pastar em outras paragens:

1. se, no exato momento em que seu olhar encontrou com o da menina pela primeira vez, ela imediatamente desviou o rosto agora tomado de uma inconfundível expressão de pânico, e não arriscou mais nenhuma olhadela na sua direção, acredite, ela não está interessada. (ok, isso é sutil. vamos à próxima:)

2. se, para se aproximar da menina, você precisou driblar todos os amigos atrás dos quais ela estava se escondendo, para finalmente encurralá-la contra a parede na pista, acredite, ela não está interessada. (ainda um pouco sutil. next:)

3. se ela disse a você que tem namorado, não vai rolar. não, não vai. é, mesmo que seja mentira e ela seja notoriamente a garota mais disponível do pedaço. é, mesmo assim. cara, acredite, ela não está interessada. (essa já é meio gritante. enfim:)

4. se, em resposta a seus insistentes questionamentos, ela disse AOS BERROS que não, não quer conhecer você, não, não quer dançar com você, não, não quer uma bebida de você, e não, não quer dizer o nome dela a você, não, não quer respirar o mesmo ar que você, é porque, acredite, não, ela não está interessada. (essa é inignorável. e, pasmem, já fui ignorada em situação idêntica.)

e por aí vai. são pistas cristalinas e ululantes, mas que não surtem nenhum efeito nos manés que insistem em tentar sua maldita sorte comigo. então, ou eu não sou suficientemente clara (haha, vão perguntar à menina da saia se eu não sou), ou os homens são totalmente autistas. estou votando na segunda. só sei de uma coisa: não aguento mais não conseguir dançar em paz porque tenho que fugir de idiotas sem noção que acham que, só porque você não está com a língua de mais ninguém na sua garganta às cinco da manhã, é porque você está roendo as unhas enquanto espera ansiosamente que língua deles adentre a sua garganta. isso apesar de você os estar evitando como a uma tripulação de marinheiros sifilíticos e leprosos. go figure. quem entende a psiquê masculina? eu é que não. definitivamente.

em tempo 1: não chegue agarrando a menina, currando a menina, puxando a menina pelo braço/perna/pé/costas/pescoço/cabeça/etc., passando a mão na bunda/coxas/seios/órgão sexual/etc. da menina. isso pode render não apenas um fora, como também um safanão da menina, dos acompanhantes da menina ou dos seguranças da casa noturna.

em tempo 2: não chegue na menina justamente quando começou a tocar aquela música pela qual ela parece que estava esperando a noite inteira, e cujos primeiros acordes a conduzem numa tacada só àquela reação pré orgásmica que você, rapaz, leva horas suando pra conseguir arrancar de outras meninas mais fáceis que ela. porque, se ela gostar de música como eu, mesmo que ela esteja interessada, você SERÁ dispensado. já troquei muito homem interessante pelas músicas do meu coração, e ainda estou pra ver o dia em que me arrependerei disso. porque, vejam bem: a música é satisfação garantida. o mesmo não pode ser dito de você, nem de qualquer homem.

em conclusão: foi mal, eu estava precisando desabafar. é que quando eu chego em casa pensando que eu preciso aprender a ser mais antipática do que já sou, é porque o caso é sério. não dá pra ficar mais antipática que eu. não dá. não dá.

acho que agora eu consigo dormir sem queimar os lençóis com o fogo que estava soltando pelas ventas.

< / limãozinho mode >

como sempre, agradeço a atenção. bom sábado pra todos. comam legumes. fui.

3 de outubro de 2003

EU ESTOU SEMPRE CERTA

eu disse que outubro ia ser um mês frenético, frenético. eu sabia. eu sabia. e nem começou direito, ainda.
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abstinência de cafeína e patetices desconexas. ando precisando dormir, acordar, me entupir de café, escrever, morgar, escrever, morgar, escrever, me entupir de mais café, ficar elétrica de café, precisar gastar a pilha, sair, dançar, dançar, dançar, desmaiar, acordar, me entupir de café, cochilar, morgar, escrever, morgar, escrever. bottom line, abstinência de tempo pra mim.

no meio tempo, estamos trabalhando para melhor me atender. e a vocês. mas eu já volto. no meio tempo, fui.
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"Solitário, não perdido,
o Amante permaneceu
nesse mundo repartido.
Sob os pés, terra do bosque,
e, dentro do coração,
o amor:
               lâmina de brasa
aguda e acesa, ferindo.

Naquele mundo de treva
só os olhos do Amante viam:"


(Thiago de Mello, poeta brasileiro)

1 de outubro de 2003

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alguém mais acha ligeiramente irônico que o texto deste blog que mais rendeu comentários de leitores nos últimos tempos nem é meu? eu acho. não posso negar que tiro uma certa satisfação mórbida da coisa. não sou matéria para as massas. ha.