14 de outubro de 2005

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a vida te dá esses pedaços infindáveis de experiência, e você cheio de cacos na mão sem saber muito bem o que fazer com eles. tudo desconexo, nada que se encaixe, nada que preste, nada que sirva para coisa alguma. nenhuma moral a ser extraída da história dos passos atrás, dops passos adiante. nada que você possa chamar de seu. o caminho debaixo dos seus pés se movendo feito esteira rolante e você tentando seguir o ritmo ofegante porque se não seguir você cai e cair é ainda pior que ofegar seguindo o ritmo.e você segue. segue tentando descobrir o que fazer com os cacos, são tantos, tantos, deveriam encaixar, deveria haver liga, não há liga, não encaixam, nada encaixa. deveria jogar fora, menos peso, mas você não os joga, ainda alimenta uma esperança meio cega, há de haver encaixe em algum lugar, você que não viu. você não joga nada fora. você não desiste de encaixar. nada encaixa. nada que você possa chamar de seu, nada. o caminho sob seus pés, também não é seu. nem é propriamente um caminho, convenhamos, é só uma esteira rolante, estatismo com impressão de movimento ou o movimento com impressão de estatismo. ou nenhum dos dois. tudo se move, nada se move. o móvel estático, o estático móvel, que resume todo o movimento planetário. tudo vindo de nada, indo pra lugar nenhum. você também. todos esses pedaços de experiência, tantos pedaços sem moral encaixe nexo. tantos pedaços, nenhum que você possa chamar de seu. você não joga fora. você se move sem se mover. sem lição. sem moral. sem encaixe. sem nexo. sem direção. sem nada. nada serve para coisa alguma. você se move.

3 de outubro de 2005

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o mundo ser um lugar previsível, tudo já ter sido visto lido dito, nada disso importa. as coisas serão o que quiserem e não há nada a fazer a respeito. me sinto cassandra, profetizando a estupidez de quem e do que existe ao meu redor, apontando, gritando esperneando. assistindo o universo dar de ombros e seguir seu rumo.
que catástrofes se prenunciem não impede que catástrofes aconteçam.
um otimista talvez dissesse, prenunciar catástrofes nos torna mais preparados para enfrentá-las.
eu de há muito já não sou mais uma otimista.