30 de junho de 2003

E AÍ, ASSISTIRAM BEIJANDO JESSICA STEIN?

"It is not inertia alone that is responsible for human relationships repeating themselves from case to case, indescribably monotonous and unrenewed. It is shyness before any sort of new and unforseeable experience with which one does not think oneself able to cope, but only someone who is ready for everything, who excludes nothing, not even the most enigmatical, will live the relation to another as something alive."

(Rainer Maria Rilke, poeta alemão)
*MEUDIADESORTE*

e não é que achei a íntegra desse livro dando sopa na internet? está em inglês, mas quero nem saber. se alguém aí tiver o original em alemão, e estiver disposto a fazer tradução simultânea no pé do meu ouvido, não me importarei. caso contrário, me contentarei com essa minha versão internética, e está tudo muito bom.

e, sim, você sabe que a indireta foi direto pra você.
SONETOS A ORFEU - II : 21

"Canta, meu coração, jardins que ignoras; como se nas
entranhas de um cristal, claros, inalcançaveis.
Águas e rosas de Ispãa ou de Xiraz,
canta e louva, feliz, a nada comparáveis.

Mostra, meu coração, que não te fazem falta.
Que é para ti que os figos lá amadurecem.
Que, por entre os galhos em flor, te reconhecem,
rostos familiares, suas brisas altas.

Evita o erro de existirem privações
para a decisão já tomada, esta: a de ser!
Fio de seda, ali dentro da trama te pões.

Do desenho, seja qual for, és parte agora
(mesmo que um só instante na dor de viver):
o que importa, sente, é o tapete inteiro em sua glória."


(Rainer Maria Rilke, poeta alemão)

29 de junho de 2003

AQUI QUEM FALA É O PEDAÇO PEQUENO, MESQUINHO, HUMANO

quando eu me for, quero que em meu lugar fique algum vácuo, por algum tempo. só isso provará que preenchi qualquer espécie de espaço enquanto estive aqui.
...

"Então voltaste. E eu te disse que além do que tínhamos, não nos restava nada. Disseste depois que o dia inteiro só querias chorar, e que eu aceitasse. Eu disse que achava bonito e difícil ser um tecelão de inventos cotidianos. E acho que não nos dissemos mais nada, e dissemos outra vez tudo aquilo que já havíamos dito e diríamos outras e outras vezes, e de repente percebemos com dureza e alívio que já não era mais o dia de ontem - mas que conseguiríamos sentir que quem não nascer de novo já era no Reino dos Céus. Não sei se não ouviste, mas ele não veio e a noite inteira o telefone permaneceu em silêncio. Foi só hoje de manhã que ele tocou e eu ouvi a tua voz perguntando lenta se eu ia continuar tecendo. Olhei para tua cama vazia, e para os livros sobre o caixote branco, e para as roupas no chão, e para a chuva que continuava caindo além das janelas, e para a pulseira de cobre que meu amigo me deu, e para a ausência do amigo queimando o pulso direito, mas perguntaste novamente se eu estava disposto a continuar tecendo - e então eu disse que sim, que estava disposto, que teceria. Que eu teço."

(Caio Fernando Abreu, in O Dia de Ontem)
...

e, sim, isso tudo me vem porque a queda se anuncia ao longe. não tão longe assim, na verdade, aproximo-me dela mais e mais. estou preparada para ela. que venha a queda, então.
...

mas não tenho medo da queda. cair é tudo que sei, cair em pé, cair que nem gata, raciocínio rápido, reflexos afiados. cair é fácil. é a paisagem nua do conforto que reveste todo o resto que eu conheço que assusta. que fascina.
...

e chegará o momento em que a escolha não será mais minha, e a queda será inevitável, iminente. não sei se você me seguirá então. clamo por isso, por favor, me impeça, não permita que eu me vá. mas não. eu sei. você permanecerá estático, inabalado, inconsciente da minha partida. até que já seja tarde demais. então você me procurará, e encontrará apenas o local da queda, que já terei abandonado há muito, meus rastros apagados pelo tempo, pelo clima, pelos rastros de outros. e talvez então você chore por ter me perdido. talvez não. uma parte de mim, a parte mesquinha, a parte pequena, a parte humana, espera que você chore então.
...

e me vem então a dúvida, será que é você quem me segura, ou sou eu quem não quer partir? sem você, seria a estrada de novo, a incerteza de novo, o vazio de novo. talvez seja mais fácil viver de migalhas que você não me dá do que voltar à caça. talvez não seja sua mão me segurando no limbo, mas a minha me agarrando a ele, para não desabar aos infernos, aos céus, à montanha russa que nos carrega de um para o outro, para um, para o outro. talvez seja hora de deixar meus dedos se abrirem, um a um, ceder à força da gravidade que clama novamente poder sobre mim. e cair. e se a queda me afastará de você definitivamente, talvez seja um risco que eu tenha que correr. talvez seja isso, esse risco que não quero correr, isso que mantém meus dedos cerrados.
...

uma das suas mãos me segura pelo braço, pela alma, me prende, me impede de partir, meu próprio peito tomado pelo seu terror de que eu siga porta afora e desapareça mundo adentro. sua outra mão, esta me mantém afastada, distância segura, o mesmo terror, outro terror, de que eu me estenda para além dos abismos que se interpõem entre nós e os ultrapasse, e alcance o que eu ainda não conheço mas vislumbro de você, deus, se isso acontecesse, os céus viriam a terra e tudo que existe de firme e sólido ruiria e retornaria ao pó de onde tudo vem e para onde tudo volta. não, não entre, não posso ter você comigo nunca jamais em tempo nenhum, você me diz, e completa, mas por favor, não se vá, como viverei sem você? sinto-me tentada a vencer a resistência da mão que me afasta, aproximar-me, beijar seu rosto, para em seguida desvencilhar-me da mão que me detém e então tomar a estrada de onde me afastei por um tempo que já se alonga além do que deveria. mas não. aguardo ainda. até que os muros sejam vencidos. até que eles me vençam. aguardo.

28 de junho de 2003

ÁGUA VIVA - TRECHO

"Foi uma sensação súbita, mas suavíssima. A luminosidade sorria no ar: exatamente isto. Era um suspiro do mundo. Não sei explicar assim como não se sabe contar sobre a aurora a um cego. É indizível o que me aconteceu em forma de sentir: preciso depressa de tua empatia. Sinta comigo. Era uma felicidade suprema."

(Clarice Lispector, escritora brasileira)

27 de junho de 2003

AGORA VOCÊS ENTENDEM POR QUE EU PRECISO DO IOGA?

yoga stops the voices in my head from being so loud. which is a catchy slogan, by the way.
HMMMMM...

isso aqui está excessivamente esquizofrênico. xá pra lá.
EURECA

e se vocês acham que entenderam uma palavra do que eu disse, do que eu digo, pensem de novo. não entenderam. o que é demonstração prática de tudo que eu disse, aliás.
...

e alguém, por favor, explique isso pro meu peito, o maldito não entende, continua ansiando pela conexão com os outros. não pode, viu, seu pulha? ele tapa os ouvidos, canta uma musiquinha infantil pra não ouvir, um elefante incomoda muita gente, dois elefantes incomodam muito mais, três elefantes incomodam mais ainda, e os elefantes se multiplicam ad infinitum. e não me ouve. quero amar, quero ser amado, diz ele, e eu respondo, sua anta, ninguém amará você, amarão uma visão de você, uma versão upbeat de você, um jingle de você, mas não você. sua anta. e ele volta da tapar os ouvidos e cantar a respeito de elefantes. e volta a fantasiar com quimeras. com amor. a anta.
EM TEMPO

não pense em elefantes rosas.

oooops.
...

e talvez um dia eu traduza o intraduzível. quando isso não for mais relevante, talvez eu consiga. e talvez eu o traduza para alguma outra língua que ninguém será capaz de ler. além de mim, isto é. para algum dialeto interno. sim, é assim que será. traduzir-me-ei, mas somente para mim mesma. porque é só isso que posso verdadeiramente alcançar. eu mesma.
O POÇO DO POÇO DO POÇO

às vezes me sinto como que à beira de um poço, ultimamente mais e mais perto. olho pra ele, ele me olha, nada a ser dito. ele me aguarda. eu aguardo o momento. e preparo o mergulho.
...

traduzir o fluxo, traduzir o intraduzível, o inexpressível, pra quê? gostaria de ser menos verbal às vezes. erguer-me acima das palavras, para além das palavras, acreditar nas pontes que se firmam pela música, pelo silêncio, pela respiração, pelo toque. confiamos excessivamente no verbo. e caímos no vazio quando não resta mais nada a ser dito, mas céus, há sempre tanto a ser dito quando abdicamos do verbo e nos atiramos nos abismos do silêncio, não é ali que estão as vozes da alma?
...

o mais impressionante às vezes é que o que existe de mais fundamental dentro do meu peito é insuscetível de expressão fiel. eu queria tanto dizer a vocês, queria tanto mostrar a vocês, queria tanto que vocês sentissem isso tudo que sou incapaz de comunicar. mas não. toda conexão humana é ilusória a partir de um determinado ponto, não sabemos se sentimos, não temos como saber se sentimos, e é muito pouco provável que sintamos, a mesma coisa. que estejamos no mesmo lugar ao mesmo tempo um para o outro. e o mais absurdo é que tudo que vivemos se baseia nisso, nessas pseudo conexões com outros seres. absurda a fragilidade de nossas bases do mundo. absurda.
ÁGUA VIVA - TRECHO

"A harmonia secreta da desarmonia: quero não o que está feito mas o que tortuosamente ainda se faz. Minhas desequilibradas palavras são o luxo de meu silêncio. Escrevo por acrobáticas e aéreas piruetas - escrevo por profundamente querer falar. Embora escrever só esteja me dando a grande medida do silêncio."

(Clarice Lispector, escritora brasileira)
WORKS LIKA A CHARM. EVERY TIME.

meus caros, jamais duvidem do poder do ioga. a coisa é uma miraculosa panacéia para todos os males. sempre que ouso pensar, não, dessa vez nenhum asana dá jeito, me surpreendo. hoje devo ter passado uns cinco minutos nesse aqui.

não duvido mais. e sigo rigorosamente as ordens do meu mestre. o homem sabe das coisas. obviamente.

26 de junho de 2003

VIXE, ESTRESSEI MESMO

agora é sério, é o que parece. não. não é o blogger new. não sei o que é. vou praticar ioga, de repente isso passa.
...

não encontrei. mas, se vocês prestarem atenção, verão que o silêncio expressa melhor que qualquer palavra. sintam o silêncio. sintam o peso do silêncio. sintam a ânsia de vômito causada pela sensação de cada segundo sendo empurrado sua goela abaixo. a cada segundo involuntariamente engolido, sintam as lágrimas vindo aos olhos, sendo contidas, chorando por que, menina, onde já se viu? não choro. o que não choro pesa. sintam o peso. agora. sintam o silêncio.

perceberam?
...

estou procurando algo que traduza a inquietude que carrego nesse exato instante.
ESTRESSEI

later.
CONSTATAÇÃO DO DIA

é oficial. todo mundo tem blog. levando em consideração isso, e também a maldição que é a nova ferramenta de publicação do blogger, talvez eu devesse me aposentar.

caso decida não me aposentar, prometo deixar de falar mal do blogger new. é que, na boa, o troço não apenas não corrigiu os bugs da versão anterior, como também criou bugs novos, isso tudo emoldurado por uma interface infinitamente inferior à antiga. ou seja, o time não estava ganhando, mas com essa nova escalação vai direto pra quarta divisão.

estou pesquisando novos provedores. não está dando.
EU ODEIO O BLOGGER NEW

sei que estou ficando repetitiva, mas acreditem, há motivos para isso.
...

eu juro que estou tentando postar, mas essa @$%#&&$ não colabora.
SIGH

essa ferramenta de publicação do blogger new é o fim. pela primeira vez, considero seriamente mudar de provedor. céus.
...

vivo nesse esforço interminável para negar tudo aquilo que fui ontem, medo do meu eu passado, complexo de patinho feio. se soubessem que não fui cisne sempre, meu segredo estará descoberto. e lá dentro, lá no fundo do fundo, acredito piamente que ainda sou aquele patinho feio, que sempre serei, que tudo que posso fazer é me esconder por trás de belas penas de cisne, e que surpresa quando os cisnes vêem em mim um igual, ó céus, se eles soubessem. a aberração está lá, terror de um dia a descobrirem. porque por trás dos disfarces é ela que sou. e em vez de enxergar a beleza nela, eu a enterro embaixo das penas de cisne. e às vezes eu me dou conta disso, coitada de mim, coitado do patinho feio, sufocando lá embaixo de tantas penas, vem cá, baby, respire, sinta o sol. preciso fazer isso mais vezes. ai de mim se me esquecer disso, ele está ali, ele existe. ai de mim se ele acaba morrendo engasgado, aí sou eu com mais um cadáver no peito, mais um velório, mais um fantasma. não, não, não preciso de mais fantasmas.
DO DESEJO

"E por que haverias de querer minha alma
Na tua cama?
Disse palavras líquidas, deleitosas, ásperas
Obscenas, porque era assim que gostávamos.
Mas não menti gozo prazer lascívia
Nem omiti que a alma está além, buscando
Aquele Outro. E te repito: por que haverias
De querer minha alma na tua cama?
Jubila-te da memória de coitos e de acertos.
Ou tenta-me de novo. Obriga-me."


(Hilda Hilst, escritora brasileira)

24 de junho de 2003

CONTINUA SENDO ASSIM

há coisas que só digo aqui porque acredito piamente, veementemente, ingenuamente talvez, que ninguém está prestando muita atenção. há coisas que coloco aqui, que continuo colocando aqui, apenas porque tenho certeza de que ninguém vai ler.
E VEJAM SÓ, MAIS UM ALINISMO

meu maior comprometimento é comigo.
...

vejam bem, meu maior comprometimento é comigo. como poderia ser diferente? por favor, esqueçam por um instante o que nos diz a chatíssima e castrante ética cristã. não há nada pior que trair a si mesmo. nada pior que mentir para o espelho, porque o espelho ceticamente nos olha de volta, o espelho não acredita jamais nas mentiras que inventamos. o espelho nos olha de volta com uma verdade que nos corta os pulsos e nos sangra até a morte, e é só com a morte que podemos finalmente renascer, mais uma vez, as veias agora preenchidas dessa mesma verdade que nos assassinou antes. desviar o olhar é adiar o processo, fugir dele. mas tem jeito não, porque a coisa é inevitável, a gente acaba indo de encontro a ela cedo ou tarde.

nada pior que mentir para o espelho. o espelho é onisciente. ele sabe. nós sabemos. meu comprometimento é com isso, comigo, com o que sei. com o que o espelho sabe, com o que ele me diz. com o que eu sei.

...

o que vocês me dizem quando não me dizem nada, também.
...

viram só? o que vocês me dizem ecoa por aqui.
ESTOU SEMPRE CONSTATANDO COISAS

sim, acho que faço isso às vezes, continuo meus diálogos aqui, meus diálogos 3d, meus diálogos virtuais. não sei por que faço isso. talvez porque o blog me dê a chance de digerir melhor o que me dizem, de decompor o que me dizem, e categorizar e colocar cada idéia diferente numa pasta individualizada dentro do meu arquivo mental. conversar com vocês por aqui me ajuda a dissecar minhas próprias sinapses, e por isso mesmo é ótimo às vezes que vocês quase nunca respondam. talvez seja isso, que o diálogo é sempre mais confortável quando eu sou minha própria interlocutora. sim, é isso. meus diálogos externos sempre ressoam aqui porque isso aqui é diálogo interno. não é de admirar que o que me dizem fora daqui ecoe por aqui.

23 de junho de 2003

8 DE FEVEREIRO

"Chorei três horas, depois dormi dois dias.

Parece incrível ainda estar vivo quando já não se acredita em mais nada. Olhar, quando já não se acredita no que se vê. E não sentir dor nem medo porque atingiram seu limite. E não ter nada além desse amplo vazio que poderei preencher como quiser ou deixá-lo assim, sozinho em si mesmo, completo, total. Até a próxima morte, que qualquer nascimento pressagia."


(Caio Fernando Abreu, in Lixo e Purpurina)

22 de junho de 2003

E ENTÃO, ESTÃO ANOTANDO OS ALINISMOS?

fodam-se as respostas. eu quero as perguntas.
...

e provavelmente a sensação que todos temos é essa, temos as respostas, yes, we have it all figured out. eu conheço o caminho, é esse o caminho. isso, até que a vida vem e muda o caminho. e sempre que percorremos paragens familiares em demasia, a vida vem. e muda o caminho. e graças a deus por isso.

quanto a mim, minha resposta é essa: fodam-se as respostas. eu quero as perguntas.
...

não sei. não sei se tenho as respostas. não sei se tenho o mapa do caminho decorado na minha cabeça, ou, se tenho, não sei se é esse o mapa certo. só sei que me parece que a vida fica bem simples sempre que eu percebo o que é ou não é essencial. o problema não está em distinguir a escolha certa, minha visão é quase sempre clara o suficiente pra enxergar os sinais que a denunciam. o problema é encontrar coragem para obedecer a eles. mas acho que é assim com todo mundo. a verdade está dentro de nós, ao nosso lado, sempre nos rodeando e nos encarando os olhos. the heart of the matter is, nós sempre somos os primeiros a desviar o olhar.
TOUCHÉ

e me disseram ontem, o mais engraçado é que você tem todas as respostas, mas ainda assim prefere se fazer as perguntas. você gosta mais de ficar repetindo e repetindo as perguntas. porque, bem, de que valem respostas, se não existem perguntas?
POEMINHA SENTIMENTAL

"O meu amor, o meu amor, Maria
É como um fio telegráfico da estrada
Aonde vêm pousar as andorinhas...
De vez em quando chega uma
E canta
(Não sei se as andorinhas cantam, mas vá lá!)
Canta e vai-se embora
Outra, nem isso,
Mal chega, vai-se embora.
A última que passou
Limitou-se a fazer cocô
No meu pobre fio de vida!
No entanto, Maria, o meu amor é sempre o mesmo:
As andorinhas é que mudam."


(Mário Quintana, poeta brasileiro)

21 de junho de 2003

...

momento de iluminação pós crise. não perco uma boa oportunidade para cair, mas sempre caio nas quatro patas, em pé, e feliz com a mudança de ares.
E, EM RESPOSTA

não me decifram. e, guess what, os poucos que me decifraram, não estão aí pra contar. foram devorados.
OUTRA CONSTATAÇÃO

não sou uma pessoa essencialmente destrutiva, é o que parece, e essa talvez a minha maior tragédia. por isso o ioga é necessário, por isso preciso chamar shiva, por isso nós trocamos idéias, ele me diz, ok, vamos riscar isso aqui, e eu digo, não, não, não, por favor, não, isso não. ele segura minha mão, me olha, diz, confie em mim, vamos riscar isso aqui, e eu digo, hmmmm, tá bom, se você diz..., e quando risco, ultrapassada a abstinência, o vácuo, percebo que aquilo era supérfluo. porque tudo é supérfluo. preciso aprender isso, a manter meus dedos cerrados sobre tudo que quero comigo, mas não com muita força, para que o que tem que ir vá. o que quiser ir, o que tiver que ir. que fique o essencial, e todo o resto que quiser ficar.
CONSTATAÇÃO

momento de iluminação pós-crise. chamei shiva, shiva veio, trocamos umas idéias, nada muito sério, mas comigo tudo é sério. e nada muda por fora, tudo muda por dentro, alicerces destruídos, outros alicerces mais firmes. e lembro de caio fernando abreu, quando ele diz que "essa morte constante das coisas é o que mais dói", e arremata com a percepção de que "depois de todas as tempestades e naufrágios, o que fica de mim em mim é cada vez mais essencial e verdadeiro". às vezes essa autenticação que nos trazem os desastres, esse separar o joio do trigo do joio, isso é viciante, quero a dor de tudo que se destrói, quero quebrar todas as correntes, todas elas. sinto essa gana quase irresistível de saquear, pilhar, incendiar, que tudo vá a cinzas, quero ver o que sobra, o que fica além de tudo que é supérfluo. mas um passarinho me diz que tudo é supérfluo, e que se eu eliminar tudo, ainda assim ficarei com minha imagem me encarando duramente no espelho e dentro de mim.
...

estamos sempre obcecados com isto, com a perda. com que as pessoas que a gente amou, ama, amará, estejam sempre com a gente, não me abandonem, o caminho é difícil, escuro, cruel, mal assombrado, não quero enfrentá-lo sozinho. duas coisas nos fogem à percepção. que estaremos sozinhos de qualquer maneira, que estamos sempre sozinhos, que a percepção dessa solidão será mais veemente sempre que o caminho estiver mais difícil, escuro, cruel, mal assombrado, sempre nos momentos em que somos postos a teste estaremos absurdamente sozinhos sozinhos, inegavelmente sozinhos, sempre sempre. e que as pessoas que encontramos por ele estão conosco, o tempo todo, mesmo que não estejam, mesmo que já tenhamos renunciado a elas, mesmo que elas já tenham renunciado a nós, mesmo que tenhamos seguido por ramificações diversas em alguma encruzilhada passada. a perda é ilusória por tudo isso: porque não podemos perder o que nunca tivemos, porque não podemos ter pessoas, porque na estopa estamos sempre sozinhos, e porque o que tivemos, o encontro, isso não perderemos nunca, no no you can't take that away from me. nada, ninguém, pode me arrancar das mãos, do sangue, da alma, esse encontro.
OUTUBRO (VIRGINDADE PERDIDA)

ergui minha mão esquerda para tocar seu rosto com a ponta dos dedos, eu ainda estava verde, ainda não sabia que meus dedos deixariam marcas indeléveis naquele quadro único, eu era uma criança com as mãos cheias de sujeira, meladas de calda de chocolate. tarde demais percebi que meu toque mudaria tudo. talvez eu devesse ter permanecido calada, sorvendo ávida e cuidadosamente o néctar da sua imagem. permitindo que pedacinhos de você me penetrassem devagar, deliciosamente, como quem faz amor. a sua voz que ressoava gloriosa e rouca no silêncio, tornando a vida tolerável às sete da manhã de segunda feira. seus dedos tamborilando nas paredes, nas mesas, em qualquer lugar, você era incansável, você não parava nunca. o seu olhar de um castanho embebido de estrelas, se derramando de malícia quando esbarrava no meu, deus, mas o que era aquele olhar que me enchia de terror e desejo, que eu não sustentava nunca, eu logo desviava, e recolhia meu próprio olhar à minha colossal insignificância. talvez eu jamais devesse ter interferido, apenas aquele você na minha memória já bastaria para atravessar a vida com poesia durante milênios.

mas não, eu não pensei, eu nunca penso - e sem pensar me estendi sobre fendas sem fundo para alcançá-lo, e senti a textura da sua pele, macia e fina, fina demais para esta vida de pedras. senti as rugas que prematuramente já lhe tomavam o rosto, que antes eu não via, tamanha a cegueira causada pela luz que você refletia. e senti a umidade do seu suor, do seu sangue, do seu medo, das suas lágrimas - até então não sabia que você também chorava. apavorada, tentei me afastar, e qual não foi minha surpresa ao me ver detida pelo seu toque em garra, forte na desesperada tentativa de me impedir de partir. sua mão tremia tanto, você tremia tanto. senti meus ossos se dissolvendo rápido no ar rarefeito, e escapei, escorregadia, pelas frestas de seus dedos. meu peito em polvorosa, despreparado para enfrentar sua inesperada, indesejada humanidade.

e quando estava novamente longe o suficiente, voltei pela última vez o olhar para aquele seu rosto de estátua renascentista, a paisagem preenchida com ele, nunca tão cheia dele. suas pálpebras secas, mas eu suspirava, eu que agora conhecia as suas lágrimas que só se revelam ao toque. eu que enxergava as marcas invisíveis dos meus dedos na sua pele de alabastro. eu que agora compreendia você, eu que sabia que você também era eu, eu que jamais poderia novamente amar você porque jamais poderia chegar a amar a mim mesma.

nossos olhares se encontraram, e tragicamente fiz amor com você pela última vez, em glória, em delírio, em abismo, em compaixão. por tudo o que fomos, pelo tudo que fomos, pelo nada que fomos.

desviei derradeiramente o olhar, a virgindade para sempre perdida para o pó deste mundo de chão.
...

e no meio de todo o caos, das ruínas e estilhaços, dos fragmentos, a paz, tudo ressoa, tudo é harmonia dissonante. talvez seja só cansaço. mas a paz. a paz. a ordem por trás de tudo que parece não ter ordem nenhuma. a vida existe para esses momentos exatos em que enxergamos a ordem, esses momentos em que vislumbramos os nós que existem para cada ponto dado pelo universo. e, acima de todo o resto, a vida existe para esses momentos em que percebemos que existimos nós, eu e você e os outros, em que vivenciamos o encontro, a conexão com todos os outros seres diante dos quais somos infinitamente semelhantes e diversos. a vida existe para o amor, mesmo que o amor no fim evapore, desapareça, se vá, mesmo assim ele fica. deus abençoe aquilo que fica, aqueles que ficam, ainda que eu os implore para que vão, sigam seu caminho, seguirei o meu, mas não, eles teimam, e ficam. deus os abençoe porque ficam. deus abençoe tudo que fica, tudo que carrego comigo. a vida existe pra isso.

20 de junho de 2003

...

estou subitamente consciente do quanto me exponho aqui, consciente do quanto tenho para expor e do quanto não quero, não posso, não me atrevo a expor. idiotice minha, ser transparente num jogo de pôquer, mas enfim, eu nunca soube blefar mesmo. não blefo. mas prefiro não mostrar minha mão ainda. só eu conheço minhas cartas. cubro a sua aposta, e aumento, para qualquer que seja a quantia que você não possa possa cobrir.
E AINDA ESTOU FASCINADA PELO SOM DESSAS PALAVRAS

decifra-me ou não te devoro.
...

(posto isso de novo, foi escrito há tempos, mas se aplica. só repriso por isso, porque se aplica, em alguma parte, pelo menos, em qual não me perguntem, não sei dizer. é um fragmento meu, volto a estar fragmentada nos últimos dias, dazed and confused, not for too long, but, o, for so long. )

meu mundo desmoronou, e ainda assim permanece o mesmo. com um pouco mais de luz nas ruas talvez, agora que não resta mais pedra sobre pedra, e não há mais muito para fazer sombras. mas sinto falta do silêncio que antes preenchia minhas cavilosidades, onde antes seu nome não ecoava ensurdecedor. mas agora tudo ressoa, e tudo é harmonia dissonante, e eu aqui suando para encontrar sentido em cada uma das infinitas entrelinhas que se fazem presentes nas pausas da minha respiração. acho que é o som interferindo no meu senso de direção, ou é a falta de rumo criando essa música estridente transcendente, porque de repente sumiram do mundo as bússolas e as que sobraram não funcionam mais. porque nada me prende. não há nada de que eu tenha que me libertar. nada me dói. apenas seu nome, que pesa no meu peito, no meu sangue, no meu fundo, pesa em mim como o corpo de um amante depois de saciado, uma, duas, infinitas vezes. agora, ele dorme. mas ecoa. como ecoa.
O MERCÚRIO

"A febre. O termômetro escapa da minha mão, parte-se o vidro pelo meio e a gota de mercúrio escapa e rola livre no ladrilho. Fico de joelhos tentando pegá-la mas ela foge roliça, densa, foge tão sagaz que me excito com o jogo, alcanço-a lá adiante mas ela entra debaixo do armário e agora me espia com sua pupila prateada, luzindo no canto escuro. Estendo o braço, toco-a de leve com a ponta do dedo e ela vem resvalando pelo declive do ladrilho, vem vindo ao meu encontro, inteira e intacta, protegida pela imponderável película de poeira que foi recolhendo em sua fuga. Consigo aprisioná-la, estou radiante, é minha! e a gota se fragmenta numa explosão silenciosa e os estilhaços - mil bolinhas de mercúrio - escorrem pelos meus dedos e se perdem no chão."

(Lygia Fagundes Telles, in A Disciplina do Amor)

19 de junho de 2003

STILL DAZED AND CONFUSED

e tentando captar o it da coisa. de outras coisas, mas ainda assim o it.
A CASA AGRADECE

favor não ligar para a minha casa em dias feriados ou fins de semana antes das duas da tarde. ou pelo menos, não ligar para a linha que toca dentro do meu quarto. na boa, isso é madrugada pra mim. meu irmão pode ser alcançado através do celular dele. então, só utilizem o telefone nessas horas em caso de emergência. obrigada. voltem sempre.
...

dazed and confused.
RAPIDINHAS - RADIOHEAD

"the breath of the morning
i keep forgetting the smell of the warm summer air
i live in a town where you can't smell a thing
you watch your feet for cracks in the pavement

up above, aliens hover
making home movies for the folks back home

of all these weird creatures who lock up their spirits
drill holes in themselves and live for their secrets

they're all uptight
uptight"

18 de junho de 2003

...

a vida é simples. um dia eu perceberei isso.

17 de junho de 2003

E CHAMARAM ISSO DE ALINISMO, ENTÃO NÃO DISCUTO

sou um segredo muito bem guardado. então, decifra-me. ou não te devoro.
...

e talvez você possa ser isso pra mim, esse vaso onde eu possa despejar tudo, todos os choques e todas as dores e todos os medos e todas as alegrias e todas as angústias e todas as sedes e todas as saudades e todos os impulsos e todos os anjos e todos os demônios, e todo esse vácuo, esse vácuo pesa tanto, talvez você possa receber esse vácuo que me pesa tanto e carregá-lo nas costas pra mim, e saciá-lo por mim, e preenchê-lo de alguma coisa, alguma substância, algo, ainda que não pra sempre, ainda que só por um tempo, ainda que só por muito pouco tempo, ainda que por tempo nenhum, porque ele me pesa tanto, ele me consome tanto, e talvez você possa sustentá-lo por um tempo, por agora, porque eu não o sustento mais, eu não me sustento mais, então quem sabe você não me sustente, e ele não me consumirá mais, ainda que venha a consumir você, porque vai consumir você, mas pelo menos você não sou eu, você não sou eu mas você pode pegar esse vácuo que é meu e fazê-lo seu por um tempo, por favor, e depois você será consumido por ele e eu seguirei em frente, vácuo hibernando e talvez finalmente segurando minhas pontas, sustentando minhas pontas que só não se desintegram por causa desse vácuo, e se você preenchesse o vácuo será você a me manter inteira a me manter sã a me manter viva, ainda que por um tempo, ainda que seja você e não eu o consumido, mas você não me ama, então não vale a pena ser engolido no meu lugar, ser devorado no meu lugar, ser você no meu lugar, e não eu no meu lugar, mas você não me ama? não daria sua vida por mim? então? então.
...

gosto de afagar meu próprio ego pensando que por trás dos véus há algo, algo que escondo, algum tesouro de valor inestimável esperando ser descoberto. gosto de pensar que sou isso, um segredo bem guardado. gosto de pensar que há algo por trás de tudo. algo que escondo. algo.

16 de junho de 2003

E, SIM, BEM LEMBROU O MARCELO

om namah shivaya.
MANTRA PESSOAL

deus permita que eu reconheça minhas correntes pelas correntes que são, quando quer que eu esteja preparada para fazê-lo. e mais ainda, deus permita que eu tenha a força para quebrá-las, a coragem para atirá-las a alguma margem já ultrapassada do caminho. e deus permita que eu encontre a tranquilidade para prosseguir sem elas. é só isso que peço, é tudo isso que peço.
IT'S SAD, REALLY

nos recusarmos a quebrar correntes que nos prendem os braços, pernas, pescoço, porque quando olhamos pra elas vemos, não correntes, mas nossos braços, pernas, pescoço. nos identificarmos com aquilo nos aprisiona. nos vermos refletidos no fundo dos olhos de nosso algoz, como num espelho. não posso destruí-las, elas são eu, como viverei sem mim? a premissa é tão verdadeira quanto falsa, porque sim, as prisões somos nós, mas nós não nos reduzimos a elas. e quando elas se esfacelam, nós ficamos, com tudo que precisamos pra prosseguir sem elas. com braços, pernas, pescoço, se precisarmos deles. sem eles, se não. mas nós ficamos. somos as prisões, mas as prisões não são nós. não são. não são.
...

a idéia me vem como um tapa na cara, seco, convicto, eu também quero aquilo que não se realiza, aquilo que vai se estender pra trás na minha linha do tempo como uma bolha suspensa, intacta, grávida da infinitude de tudo que não foi. quero as incontáveis possibilidades que estão trancadas dentro de gavetas cujas chaves não tenho. quero as coisas que não apodrecem, porque o que nunca foi jamais pode se desfazer, permanece estático, ganhando dinamismo na seara da minha imaginação, cada não uma explosão, um big bang, um universo desdobrando-se eternamente em galáxias que eu não irei conhecer, mas que só eu conheço. quero o que não foi nem será, todas as terras que não habitarei, todos os amigos que não encontrarei, todas as vidas que não vivi. quero isso porque é só ali que posso criar teias invisíveis, é ali que aprisionarei meu alimento. é naqueles fios que eu afirmo inesgotavelmente a minha negação. é aquele o terreno que eu transformo, onde eu preparo a terra, planto sementes, construo cidades, países, mundos. é a ele que eu pertenço, e ali que me desenvolvo. é ali que eu usurpo a concretude de sua esterilidade invencível, subverto as leis da física e dos homens e de deus. sou, melhor, ali, no terreno do que não é.
...

indiferença me cansa. eu me treino pra ser indiferente a quem me trata com indiferença, pra não ser indiferente a quem não me trata com indiferença. sempre funciona. não sei se a culpa é do meu orgulho leonino. se é autoafirmação essa necessidade de ter peso, forma, significação pro mundo, pra mim, pros outros. mas não gasto fôlego, saliva ou calorias em nenhum lugar onde ache que não acrescento. não há nada mais despiciendo do que aquilo a que somos indiferentes. e coisas despiciendas não valem a nossa energia, o espaço é tão exíguo, o tempo tão curto, a vida tão finita, nada deve ser desperdiçado com o que é descartável. então aviso, só aviso. enquanto me quiserem na vida de vocês, não emulem indiferença. não preciso ser necessária. mas preciso ser relevante. ou me dissolvo no ar, como se nunca tivesse estado ali. sempre funciona. sempre.

15 de junho de 2003

...

*momento não verbal*
O UNIVERSO DANÇA

14 de junho de 2003

...

decifra-me.

ou não te devoro.
...

por que você se esconde, ele me perguntou, por que tantos e tantos véus, há tanto de tão fascinante por trás deles, por que, então? não me escondo, respondo, desvio o olhar enquanto respondo, fixo num ponto que só eu enxergo, e espero que ele perceba que os véus são translúcidos, transparentes quase, e que um a um eles vão caindo vagarosamente enquanto... mas não. voltamos a falar do tempo, depois já é tarde, e nos despedimos seguindo em direção aos nossos nadas respectivos.
UNITE AND TAKE OVER

hoje minhas idiossincracias saíram às ruas, unidas, carregando cartazes, queremos ser ouvidas, queremos respeito. mas eu ouço vocês, respeito vocês, ora bolas, como poucos, vocês já são tão bem tratadas, já têm tantas e tantas regalias. não, não e não, queremos mais, merecemos mais, teremos mais, revolução, revolução, quebra tudo. são como esses europeus, que têm chá, muffins, pão e manteiga na mesa, mas protestam irresignados, insatisfeitos, a manteiga tem pouco sal. ou tem muita gordura. isso é direito fundamental do homem, ninguém deveria ser obrigado a viver sem manteiga com mais sal e menos gordura. quebra tudo. aditem a declaração universal de direitos do homem. enquanto em algum lugar da áfrica, milhões não sabem o que é manteiga, nem pão, nem chá, nem muffins. o homem e as idioossincracias são seres corrompidos pelo excesso.
...

continuo dispersa, é o que parece.
...

terror de me apontarem o dedo em riste, mas isso não é você, você é melhor do que isso. terror de me confrontarem frustrados, de me atirarem na cara as promessas que não fiz, que não faria, que não faço. mas eu sei que você é melhor do que isso. protesto, balanço a cabeça, uma coisa irresignada no peito, não sou não. se não ser o que sou é ser melhor, então não sou melhor, sou o que sou, só posso ser o que sou. lamento por suas virgens expectativas, uma pena, sempre uma pena que mocinhas impúberes sucumbam desvalidas a uma morte prematura, assassinadas sem abrirem em flor. as pobres. mas as donzelas já estavam condenadas no instante em que entraram porta adentro, e isso estava estampado em cada milímetro delas, em cada olhar, em cada som. você sabia, não queria saber, mas sabia. e a perda é sua, não minha, foi você quem abriu sua casa a elas, foi você quem lhes deu de comer e beber, foi você quem lhes ofereceu leito e lhes lavou as roupas. foi você quem as acolheu, quem se apegou a elas, quem as amou. e sim, foi só e apenas a elas que você amou. e não a mim, eu não tenho nada a ver com isso, eu não sou melhor do que isso, se melhor do que isso é não ser eu. e, por isso, não, não lamentarei. não lamento. essas moças, pobres moças, já vão tarde. muito tarde.
... E, SIM:

just cause you feel it, doesn't mean it's there.
JUST 'CAUSE YOU FEEL IT, DOESN'T MEAN IT'S THERE

tocou ontem. eu mordi a língua, porque antes de entrar, enchi a boca pra falar, povo atrasado, esses djs, ainda não descobriram o novo do radiohead. e eles disseram, ah é, bicuda? então toma.

tomei.
...

e por favor, eu imploro, não me preencham de um sentido que não é meu. não completem espaços que vou deixando em branco com palavras que não são minhas. não transbordem minhas entrelinhas com tudo que não flui, que não pode fluir, que jamais fluirá, de mim. ou façam isso, paciência, impedir como? mas não me vinculem. não exijam de mim o mesmo olhar que encontram no espelho. não esperem encontrar seu reflexo no meu rosto. por favor, eu imploro.
...

passeio por todas as palavras concatenadas. elas passam por mim, fazem-se de difíceis, eu reconheço o padrão, já me fiz de difícil tantas vezes. no silêncio das páginas que elas habitam, elas me sussurram tentadoras um decifra-me ou não te devoro. não decifro. desconfio que por trás dos véus e do ar blasé haja algo, algum código criptografado que um dia possa se fundir a mim, me marcar numa cicatriz indelével invisível, algo de trágico e belo que eu possa carregar comigo. mas só desconfio, porque não mereço delas um segundo olhar. e porque desconfio, retorno a elas de tempos em tempos, de novo e de novo seu sentido me atravessa, me escapa, e eu continuo vislumbrando aquele algo indefinível indescritível, é isso que me traz sempre sempre de volta. um dia cairão os véus. é isso que me traz de volta.
...

"Se bem, como de uma prisão odiada e sofrida,
cada um de nós forceje por escapar de dentro
de si próprio, existe no mundo um grande portento
que sinto a cada passo:
toda vida é vivida.

Quem a vive então? As coisas que, no fim do dia,
jamais executada melodia
permanecem como sons numa harpa armazenados?
Vivem-na os ventos das águas desatados?
Ou os ramos, com os seus gestos descompassados?
Ou as flores, com os seus aromas misturados?
Ou, das aléias, o longo leito sombreado?
Ou, os animais cálidos que andam sobre o chão?
Ou, pelo céu afora, as aves de arribação?

Quem a vive? És tu, Deus, que vives a vida então?"


(Rainer Maria Rilke, poeta alemão)

13 de junho de 2003

A BRUXA ESTÁ SOLTA

já me desentendi com três hoje. quem me conhece sabe, o número é bem alto. some bad mojo going on. e meu horóscopo nem me avisou nada, o inútil.

antes que especulem, não, não é tpm, pelo menos não no conceito clássico da coisa. vou me trancar em algum lugar até isso passar. provavelmente, na bunker. hehe.
25 DE ABRIL

"Abro uma antiga mala de velharias e lá encontro minha máscara de esgrima. Emocionante o momento em que púnhamos a máscara- tela tão fina - e nos enfrentávamos mascarados, sem feições. A túnica branca com o coração em relevo no lado esquerdo do peito, 'olha esse alvo sem defesa, menina, defenda esse alvo!' - advertia o professor, e eu me confundia e o florete do adversário tocava reto no meu coração exposto."

(Lygia Fagundes Telles, in A Disciplina do Amor)

12 de junho de 2003

POSTEI DEMAIS HOJE

later.
PRA NÃO PERDER O HÁBITO: LDKGHDFGLDKJGHDFK

hmmmm, estou dispersa hoje. e não falarei do dia dos namorados. ooops, já falei. não falarei mais. emulando fernanda young, caguei. um caguei bastante sincero. ok, parei. mas à noite, será party party party. o fim de semana começa já.
COMO É QUE ELE DIZ... AH, É: ASLKDJSDLKAJSDALKJ

por paradoxal que soe, sou uma das criaturas mais pretensiosas que eu conheço, e, ao mesmo tempo, sou fundamentalmente desprovida de pretensão. mas acho que todo mundo é assim. a coisa do encher a boca pra dizer que somos todos identicamente medíocres, e de logo em seguida dar tapinhas de contentamento nas nossas próprias costas, acreditando que somos menos medíocres que o resto porque percebemos isso.

somos um bando de manés, é isso que somos.




essa música está em loop por aqui. vicia, a voz rasgada do thom yorke dizendo, yeah, i love it, the attention, payin' attention. me dá vontade de dizer, yeah, i love it, mas só admito pra você, baby. deus meu.
... E COMO FAZ MUITO TEMPO QUE NÃO FALO NISSO ...

pi e o infinito, depois de muitas intervenções corretivas, estão bem, obrigada. por algum motivo misterioso, ficaram em alto relevo. e com isso me vem à cabeça algo que considero uma boa metáfora, de como carregamos todas as nossas cicatrizes em alto relevo.

minhas cicatrizes, voluntárias e involuntárias, todas elas, alto relevo. meninas dos meus olhos. destaques nos carros alegóricos do desfile de escola de samba da minha vida. é necessário amar nossas cicatrizes, todas e cada uma delas.
MOMENTO EURECA

será que é isso, que minha fé mais firme tem no movimento o seu objeto?

não sei. mas se for, palmas pro alexandre soares silva e pra teoria nem tão maluca assim do anjo pul.
UMA ALEGRIA PARA SEMPRE

"As coisas que não conseguem ser
olvidadas continuam acontecendo.
Sentimo-las como da primeira vez,
sentimo-las fora do tempo,
nesse mundo do sempre onde as
datas não datam. Só no mundo do nunca
existem lápides... Que importa se -
depois de tudo - tenha 'ela' partido,
casado, mudado, sumido, esquecido,
enganado, ou que quer que te haja
feito, em suma? Tiveste uma parte da
sua vida que foi só tua e, esta, ela
jamais a poderá passar de ti para ninguém.
Há bens inalienáveis, há certos momentos que,
a contrário do que pensas,
fazem parte da tua vida presente
e não do teu passado. E abrem-se no teu
sorriso mesmo quando, deslembrado deles,
estiveres sorrindo a outras coisas.
Ah, nem queiras saber o quanto
deves à ingrata criatura...
A thing of beauty is a joy for ever
- disse, há cento e muitos anos, um poeta
inglês que não conseguiu morrer."


(Mário Quintana, poeta brasileiro)
EU SÓ TENHO TRÊS PEDIDOS, SEU GÊNIO?

tenho uma listinha de sonhos fúteis, e irrealizáveis nas minhas presentes condições de pressão e temperatura. são coisas bestas, que eu gostaria de fazer, mas por ene motivos vou protelando para as encarnações futuras. coisas como aprender a tocar cello, me tornar bailarina clássica, ou participar de um eco challenge. estou anotando, para a remota possibilidade de que talvez algum dia aquela lâmpada supimpa do aladim venha parar nas minhas mãos.

talvez faça uma nova série com eles.
CONSTATAÇÃO EMPÍRICA DO DIA

percebi que não sou grande fã de pessoas excessivamente exclamantes. soam rasas. nas turmas de alfabetização deveria haver avisos, o uso indiscriminado de exclamações pode conduzir a uma crônica perda de credibilidade. efusividade controlada, é a chave da coisa.

11 de junho de 2003

CALÚNIA!

me disseram que sou mais inteligente pelo icq que no blog. correção, muuuuuuuuuuuuuito mais inteligente. tudo por causa de frases como pessoas são abismos, e o tédio conjugal é grávido, grávido de um monte de coisas.

i protest, your honour. muitos podem testemunhar que não, não sou nada inteligente pelo icq. só encho lingüiça como poucos. o que comprova aquilo de que sempre me ufano, minha imensurável eloqüência para dissertar sobre coisa nenhuma.
MOMENTO JURIDIQUÊS

estorinha contada pelo meu professor de direitos reais, de um ex adverso que postulou danos morais porque a outra parte defendeu numa petição que as benfeitorias que ele alegava ter realizado na verdade eram acessões. ficou ofendido, coitado. *sigh*.
O MUNDO É UM OVO, MAS VOCÊS JÁ SABEM DISSO

fui convidada pra esse tão falado friendster. me cadastrei, preenchi um formulariozinho reducionista, mandei uns e-mails aleatórios prum pessoal. pela teia de contatos, já localizei um cara com quem fiz segundo grau. vamos ver se isso serve pralguma coisa, além de demonstrar que todas as pessoas de fato estão separadas por seis ou menos graus de separação.

9 de junho de 2003

STILL COOL

e o momento fútil persiste.
EU ACHO QUE OUVI UM GATINHO. OUVI? ...OUVI SIM.

foi impressão minha, ou o edinho tocou swastika eyes no sábado? meu consultor musical teria surtado. ele vive tentando me convencer de que essa música é revolucionante, tal e tal, mas sei lá, acho insossa. de repente pra gostar dela ainda tenho que ultrapassar aquele período de envelhecimento que certas coisas exigem. maybe it will grow on me.
LAST NITE III (DEVERIA TER SIDO POSTADO ONTEM. RELEVEM)

a noite de sábado. fazia exatamente um mês que não ouvia o amândio tocar, mas bem, foi como se assim não fosse. same old same old, com a diferença de que o som dele sofreu uma embibada substancial. nada contra, o povo gosta, mas tudo contra, porque quanto mais le boy o set dele fica, mais seca a farofa, e quanto mais seca a farofa, mais difícil de passar na garganta. e eu estou aqui discutindo com meus botões o que farei da minha vida quando for o theddy, e não o edinho, tocando na outra pista. dúvida cruel. até porque parece que o som do edinho fica mais a minha cara a cada noite. placebo, interpol, radiohead, suede... e o que não foi a menina da saia em disparada bunker adentro pra me encontrar e me dizer que ele estava tocando one way or another, vamos dançar, vamos dançar? o que há.
AND NOW

apagar incêndios. depois dormir. direito tributário amanhã de manhã. segunda-feira é um dia muito garfield.
NO ALARMS AND NO SURPRISES

e eu, que achei que fosse tomar um cano imensurável no provão. nem. talvez eu soubesse mais do que imaginava. mas não, o provável é que a prova tenha sido vergonhosamente fácil mesmo. e a motivação pra pra me esforçar por ir bem numa avaliação que não me afeta específica e diretamente? preencher aqueles quadradinhos inexistentes de tão mínimos no cartão resposta? saiu pela janela, atrás da rioparade. e eu confinada numa escolinha municipal no leblon, dissertando sonolentamente a respeito de coisas chatíssimas, como as conseqüências da perda da abstração de um título de crédito para a defesa do devedor. ai meus sais.

8 de junho de 2003

NÃO LUTAREI CONTRA AS LEIS DA FÍSICA

o que fazer, se um corpo móvel tende a permanecer em repouso ou em movimento retilíneo e uniforme se a resultante das forças que atuam sobre ele for nula? inércia é foda. com isso, foi-se a rioparade.

7 de junho de 2003

COOL

esse blog passa por um momento fútil. um reflexo dos ares que rodeiam a sua mantenedora, na verdade. sejam tolerantes, leitores. é só o rush que vem de se acabar na pista de dança depois de um longo, longo mês de abstinência.
EU JURO QUE SÓ DIGO MAIS ISSO

vamos ver se alguém consegue me responder isso, só isso: onde estão as tão propagandeadas go go people que ocuparão o novíssimo chuveiro da ex-pista um, atual arena?

no meu bolso não estão.
OUTRO HIGHLIGHT DA NOITE

a fabíola resolveu ir embora cedo, e deus é um cara sacana. tendo isso em, mente, não foi nenhuma surpresa quando, assim que a menina colocou o pé do lado de fora da porta, o espírito do amândio baixou no luciano vianna, e ele resolveu mandar todos os hits da setlist do dj preferido dela. coisas como girls and boys, into the groove, in between days, take on me e groove is in the heart. mas, bem, como com tudo na vida dá pra bancar a pollyanna, vejamos a coisa pelo outro gume da faca: ela ouvirá todas essas músicas hoje à noite, muito provavelmente.
LAST NITE II

ontem foi A noite, eu já imaginava que seria. alien nation na bunker é alien nation na bunker, e em muito tempo eu não me divertia tanto. os meninos do glamourama fizeram doce, mas no fim entregaram de bandeja o melhor show deles que eu já assisti, com direito, inclusive, a um ótimo cover de a little respect . e, bem, os rapazes se acabaram no palco, eu me acabei na pista. fui pega totalmente de surpresa diversas vezes, como quando colocaram no som, numa carreira só, house of the jealous lovers, danger! high voltage, e uma versãozinha bem menos brega que a do barry manilow para copacabana. isso fora outras das minhas favoritas, como electroneering, pda, paranoid android, idiotheque e cherry lips. só digo isso: não estou mais sentindo meus pés. ai.

6 de junho de 2003

MOMENTO CLARICE

estou tentando captar o it da coisa. algo de que eu deveria desistir, diga-se de passagem.
LAST NITE

noite calma na bunker. bastante gente, o lugar está bem diferente, mas um diferente bom. novidades são a transferência do lounge pra antiga pista um, atual arena, as incrementadas cabines dos djs, o som excelente e o banheiro unissex. achei as músicas uma droga, mas isso é porque eu tenho asco mortal de hip hop e não estava com paciência pra música eletrônica. hoje, em compensação, tem alien nation e glamourama. eba.

5 de junho de 2003

THE HIGHLIGHT OF MY WEEK

e, sim, ave santíssima, a bunker está de volta! o fim de semana será maratona de ir lá quantas noites eu aguentar, mais provão do mec, e, who knows, talvez dar uma passadinha logo ali na rio parade. quem estiver com gás pra acompanhar, well, you know where to find me.

ah, sim, quase me esqueço. pra completar, os rapazes do glamourama, que acabaram de assoprar a velinha de um ano de casamento, estarão distribuindo seu glitter por lá na sexta. do i need to say more?
DE QUE OUTRA FORMA PODERÍAMOS FAZER OMELETES?

as pessoas podiam simplesmente dizer o que pensam. pisamos em ovos todo o tempo, com todo mundo. e, céus, alguns ovos devem ser quebrados, merecem ser quebrados, são melhores quebrados. inteiros, são só ovos, se chocados talvez virem pintinhos, talvez não. fato é, nem sempre queremos pintinhos. quebrados os ovos, eles podem ser fritos, mexidos, cozidos, podem ser parte da mistura que formará tortas, pães, quindins, ou uma bela máscara nutritiva para a pele do rosto.

ok, metáfora medíocre, mas tudo pra provar que deveríamos exercitar nossa habilidade para sair matando buda caminho afora. sou boa em assassinar a pauladas os budas que alguns insistem aderir à imagem que formam de mim. não, não, meu caro, nada disso. isso que você está vendo, não é isso, sou só eu. nada demais. não alimente meu ego, por favor, ele já está bem gordo, anda precisando fazer jejum, talvez mereça morrer de fome. um dia ele ainda morre. então, façam-me um grande favor, não pisem em ovos comigo. porque, acreditem, eu farei o mesmo. quer vocês queiram, quer não.
RETIFICAÇÃO

acho que isso não ficou muito claro, então vamos lá. não é que eu não acredite em amizade homem/mulher sem que haja interesse de alguma das partes, longe disso. tenho amigos, bons amigos, apenas amigos, homens, e nem todos eles são homossexuais inconversíveis ou heterossexuais fundamentalmente repugnantes. é que a relação sempre passa por aquela fase de, hmmm, será que rola. depois que isso passa, tudo muito bem, tudo muito bom, we sail happily into the sunset. mas comigo nunca aconteceu da relação não atravessar essa fase. muitas vezes ela é implícita. mas, bem, no que me concerne, ela costuma ser bem explícita, porque eu sou do tipo que chuta o pau da barraca. céus, eu chuto e derrubo irremovíveis alicerces de fortalezas. coitadas das barracas.
MNHA LARANJEIRA VERDE, POR QUE ESTÁ TÃO PRATEADA?

acho que sou uma pessoa bastante sazonal. eu me reinvento de tempos em tempos. troco de pele. tenho fases de tudo, de interesses, de gostos, de comidas, de livros, de músicas, de blogs, de pessoas. sim, eu sei, todos somos assim, todos temos fases. mas algo (talvez essa mania de no fundo no fundo eu achar - a despeito de todos os meus protestos em contrário - que a minha mediocridade tem um brilho diferente da dos demais) me diz que eu sou mais. ou que sou sazonal de um jeito singular, que seja. fato é, conheço uma coisa, gosto dela, vou conhecendo, gosto mais ainda, aí vou na jugular, na medula, sugo tudo. esgoto. até que reste pouco ou nada. parto pra outra. se restou alguma coisa, pouco que seja (e quase nunca resta), um dia eu volto a ela. o verdadeiro mérito do que ou de quem quer que seja, na relação comigo, não está em despertar paixão, isso é fácil. o mérito está na permanência. é raro o que permaneça. e, cá pra mim, e entre nós, o que permanece é o que eu tenho de mais querido.
TANGERINE

fazia anos que não comia uma tangerina. há muito tempo, essa cena se repetia, de novo e de novo, eu via tangerinas em algum balcão no supermercado, achava que estavam feias, murchas, manchadas, não comprava. e, surpresa, meu irmão trouxe algumas ontem pra casa, depois perguntarei de onde ele as tirou. comi uma hoje de manhã. estava doce, com bastante sumo. mas eu não me lembrava disso, de como a melhor parte é tirar a casca da fruta com os dedos, a essência se desprendendo da casca, a essência aderindo aos dedos. estou com as mãos cheirando a tangerina até agora. acho que é desse cheiro que sentia mais saudade.

4 de junho de 2003

QUEM DISSE QUE EU ME MUDEI?

"Não importa que a tenham demolido:
A gente continua morando na velha casa
                         [em que nasceu."


(Mário Quintana, poeta brasileiro)

3 de junho de 2003

RESUMO DE CONVERSA NO ICQ

(qualquer semelhança entre este post e eventos da vida real é mera coincidência)

cada janela no icq é um abismo. pessoas são abismos. sim, são abismos, devemos nos atirar nelas de olhos fechados. de olhos fechados? sei não. eu me atiro nelas de olhos abertos. mas de olhos abertos não tem vertigem. até tem, mas a vertigem é menor. só que de olhos fechados a gente não vê as pessoas. entre a vertigem e as pessoas, escolho as pessoas. acho. mas me pergunte mais tarde.
VOCÊS ESQUECEM QUE EU SÓ FALO BOBAGEM?

andam me citando muito por aí. até coisas que eu não disse, ou que não disse sozinha, vejam só. não pode ser um bom sinal.
OH LORD, PLEASE DON'T LET ME BE MISUNDERSTOOD

hoje disse a uma pessoa ultra encasacada, puxa, mas só de olhar pra você eu já estou com calor, e fui MUITO mal interpretada. MUITO.
TUDO INDICA



a fase é de suede. créditos muito atrasados ao meu consultor musical.

1 de junho de 2003

ESTAMOS ACEITANDO CURRÍCULOS

você atravessa dificuldades sérias, passa por situações que abalam todo o seu universo, supera doenças extremamente debilitantes, e seus amigos nem tchum. e, depois que passa, eles ainda têm a audácia de te ligar e pagar um esporro porque, não, durante esses momentos críticos revolucionantes da sua vida, você não lembrou de mandar o memorando, ref. fase cataclísmica, favor estar presente para fornecer apoio adequado. os putos.
CABEÇA VAZIA, MORADA DO DIABO

que seres humanos têm boa parte do espaço intra craniano preenchido por titica de galinha, isso é fato público e notório. é a notável multiplicidade da titica o que me impressiona. uma dos mais relevantes matérias primas da nossa inesgotável criatividade é a merda que temos na cabeça.
PRA ENCERRAR O ASSUNTO

tenho um respeito fenomenal por pessoas alheias a essa pandêmica obsessão com a idéia do amor&derivados. são um oásis. conheço poucos que não estão desesperados por encontrar alguém, ou aliviados por não estarem sozinhos. quase todos buscam sua própria completude no outro, e eu não vou nem começar a falar a respeito da roubada que isso é. deve ser sinal dos tempos.
CONTINUANDO O RACIOCÍNIO

por algum motivo, quase todas as minhas amizades com homens cedo ou tarde resvalam pra essa tecla. algumas sobrevivem a ela, outras não. mas não sei porque sempre vai dar nisso. talvez eu seja um ser flertante. ou talvez estejam todos tão obcecados com a caça, que nem se reconhece mais o que é ou não possível presa. não sei. farei uma enquete.
IDÉIA PARA UM CARTÃO DE VISITAS

sempre que conheço um homem, há inevitavelmente aqueles momentos iniciais disformes em que a relação precisa se definir, amor ou amizade, and all that crap. ou seja, eca. odeio isso. deve ser porque estou numa fase absolutamente destacada de questiúnculas amorosas - graças aos céus e ao bom jesus - e isso seja absolutamente atípico em pessoas da minha idade. as pessoas sempre presumem, ou temos alguém na rede, ou estamos à caça. e eu, meus caros, estou sentada numa poltrona comendo um sanduíche de ricota enquanto assisto a última temporada de buffy na tv. um dia ainda faço um cartão de visitas. meu nome em letras maiúsculas. embaixo, em minúsculas e em negrito, um belo not interested. puxaria da manga sempre que fosse o caso, ou seja, quase todas as vezes. me pouparia o trabalho de explicar, veja bem, não estou procurando, estou bem sozinha, completa sozinha. não, não vejo um possível parceiro em qualquer coisa que use calças e seja capaz de procriar. não, não é pessoal. não, sério, você é um cara legal. céus. seria mais útil ainda naquelas situações em que o pobre rapaz se sente ameaçado e vai me dispensando sem que eu sequer esteja tentando a sorte. mas, não sei, acho que economizaria o cartão nesses casos. eles sempre me fazem rir até chorar e rendem boas estórias em momentos de alto teor etílico.