29 de outubro de 2006

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"my new friend plays drums all the time
her magic heart feels everything
she plays the difficult parts and i play difficult

if i could stand to be less difficult"


(chan marshall)

9 de outubro de 2006

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aliás.
toda nostalgia, como todo desejo, parece ser de algo que nunca esteve ali, exatamente. nada nada nada do que se alcança é exatamente o que se quer, e toda minha vida foi conseguir o que queria pra descobrir que não era nada daquilo o que eu queria. será diferente para os outros? sempre foi, tem sido, caminhar pela floresta em círculos cada vez mais largos e concêntricos atrás do caminho de casa. qual casa - a de onde me expulsaram pra que definhasse na selva, ou aquela feita de açúcar onde me aguarda a engorda, a morte? qual casa. melhores os círculos da floresta marcados com migalhas de pão que desaparecem por voracidade dos pássaros. melhores os círculos perdidos, continuo andando em círculos, jamais o caminho de casa, o caminho de casa seria o fim, fosse fome ou assassinato. qual casa. abdicar da nostalgia, abdicar do desejo, acolher no peito a idéia, apenas a idéia, de uma casa. fazer combustível para seguir nos círculos.
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e se o desejo for feito pra ficar numa moldura na parede, irrealizável, insondável. será de todo mal?
e se não for nada mal? se não for nada mal.
(andei revisitando os pontos percorridos na floresta, impressionante como a gente caminha círculos, como assim sem perceber a gente sempre volta exatamente pros mesmos lugares. a gente sempre acha que todos os lugares velhos são novos. fiquei feliz de ter deixado essas minhas migalhinhas de pão marcando o caminho pela floresta, pra conseguir enxergar os círculos em que caminhei. caminho. caminharei.)

9 de setembro de 2006

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indevassável solidão. se não acredito em nada além dessa solidão que tanto temo - então porque a temo?
porque a temo.
aqui em cima, ali embaixo: ó o ato falho. porque, de resposta, em pergunta.
escrever é profetizar.
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é o medo. medo. medo. de estar sozinha, de sempre acabar sozinha.
surpresa, sou um clichê de um metro e sessenta em salto quinze.

mas é engraçado: esse terror de acabar sem laços. não me interesso por laços a maior parte do tempo, ao menos não pelos de mentira. mas. há outro tipo? se todas as pontes são de areia, e não fazem nada por mim as pontes de areia, o que resta? indevassável solidão. se não acredito em nada além dessa solidão que tanto temo - então porque a temo? se ela é tão somente o que há pra mim. não me interessa o ficcional onde quero o real, e tudo que se oferece à percepção humana é, na minha catequese pessoal, a mais pura ficção. paradoxo que se retroalimenta, retrovírus, bola de neve, círculo vicioso (e mais um clichê de metro, sessenta e mais quinze).
medo de acabar sozinha. pior: acabar catacrética. altura peso beleza médios. meu grande mérito no mundo: sou tudo; o que não sou? desinteressante. então, me cospe na cara, então. tudo medo de acabar sozinha. à deriva. sozinha e me repetindo. boiando em oceano glacial sobre um imenso iceberg, deus me proteja me proteja me proteja de me tornar uma esquimó velha demais pra acompanhar a tribo falando sozinha pelos cotovelos exatamente sempre as mesmas coisas tremendamente desinteressantes.
e a dúvida: já não sou? não tenho sido? não continuarei sendo?
e a suprema desinteressância. me cospe na cara.
me percebo: sozinha. desinteressante. desinteressante. sozinha. quantas mais opções tornar possível alguma análise combinatória de poucas opções. monótona interminável.
seria questão de escolha, escolher, entre laços de areia que não me dizem squat, entre essa solidão que abomino. sabendo. que o real não oferece escolha, escolha pressupõe opções diversas, e nos dois lados o que existe é a mesmíssima coisa.

submerjo um dos pés no oceano glacial ao redor do meu iceberg. e o recolho. me sinto velha, não sirvo à tribo. melhor: servi algum dia? (parece óbvia a resposta, desnecessidade de verbalizá-la)
mas não sirvo a ninguém. nunca fui boa serviçal.

testo um horizonte que não se disponibiliza para testes. permaneço à deriva.
gelo que segue em suspensão.

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o que me é dado, é o que quero.
o que me é dado, é o que quero.
o que me é dado, é o que quero.
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ando fugindo de gente. gente é um bichinho incômodo, talvez seja a definição exata. gente faz barulho. gente é tóxica. gente é de uma desinteressância, de um descompromisso. de uma atraoiçoabilidade sempre renovada. só você se distrair, pá, lá está de novo, a faca. nas suas costas. entre as escápulas.
gente é uma inesgotável zona de desconforto.
mas o desconforto vem de nós, alguma mentezinha um pouco mais comezinha e sagaz, argumentaria.
ao que contra-argumento (contra-argumento?)
nossa imagem só nos é acessível via espelhos.
ando fugindo de gente.
e de espelhos.
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me ensinem, por favor, onde jogo fora o uniforme de diretora de internato. ninguém quer perceber-se isso, investido assim, nessa função. o carrasco. o castrador. eu muito menos. quero minha inflexibilidade dentro daquela lixeirinha verde feita pra abrigar giletes e pilhas que levam um zilhão de anos pra degradar: lá onde se jogam detritos de toxicidade nuclear, bem longe longe longe. porque a castração é assim, em um segundo executada, em zilhões de anos superada. se é que é superada. não. não.
é um trabalho sujo, sim. sim, alguém há de fazê-lo, sim. sim.
mas eu não.

... apesar de ser boa nele.

não.

21 de agosto de 2006

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no hay banda.
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"they said you were the best,
but then they were only kids

then you would recall the deadly houses you grew up in

just because they knew your name,
doesn't mean they know from where you came
what a sad trick you thought that you had to play
but I don't blame you

they never owned it
and you never owed it to them anyway

i don't blame you"


(chan marshall)

1 de agosto de 2006

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descobrir uma linguagem é um jeito de nascer. doloroso assim, trabalhoso assim, inapreensível assim. sair de um espaço apertado explorado ad nauseam por definição insuficiente. ir pra outro, inexpugnável mundo novo, muita luz e formas enormes fascinantes grotescas disformes. outro mundo de formas novas a serem todas nomeadas, tranformadas em linguagem.
descobrir uma linguagem é nascer um pouquinho.
dói, a gravidez da linguagem futura. tem doído. a vida toda parece isso, gravidez de uma linguagem futura. ainda. sempre.

... mas é isso, por isso o silêncio. minha linguagem se perdeu de mim, ficou apertada explorada insuficiente. estou grávida de uma nova, ainda não veio, ainda aguardo, enquanto aguardo atormenta-me o peso do não dito que tanto anseio por dizer. vem já. me aguardem. estou nascendo.

11 de julho de 2006

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então.
há uma certa inacessibilidade no mundo. rotina mais rotineira de buscar algo que não está lá nunca esteve lá nunca estará lá. chover no molhado, eu sei, já deu, essa de incomunicabilidade. mas ando. estendo a mão e não está. abro a boca e não sai. as frases de efeito foram pra algum lugar que não sei e não estão lendo emails nem ouvindo os recados na secretária eletrônica.
mas (sempre a tal desculpa): parece mútuo. não tenho certeza, se inacessível o mundo, inacessível eu. mas ando. desistindo de estender a mão. não estendo a mão ao mundo e o mundo não tem feito lá muito para se estender a mim. e a vida segue cinza, nada de muito tentador no mundo, nada muito tentado em mim. inferno paraíso purgatório, esse cinza? tudo a mesma coisa, tudo a mesmíssima coisa. tudo cinza.
não sei se estou melhor, se pior, se na mesma.
inacessível. eu. o mundo.
eu.

11 de junho de 2006

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a incomunicabilidade é questão de tempo.
pontes se fazem e desfazem, a velocidade disso, não percebemos. só naquele instante em que vamos atravessá-la - de repente ela não está mais lá. caímos no vazio no nada em nós. não no outro.
a tentativa, reconstruir pontes, escapar à armadilha da incomunicabilidade inexorável.
o medo, a própria noção de comunicabilidade ser castelo de areia, a gente inventar pra brincar de gato e rato com o imponderável.

o imponderável é questão de tempo.
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"so I ran faster
but it caught me here
yes, my loyalties turned
like my ankle in the seventh grade
running after billy
running after the rain

these precious things
let them bleed
let them wash away

these precious things
let them break their hold over me"


(tori amos)

6 de março de 2006

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se a incomunicabilidade é questão de tempo

6 de fevereiro de 2006

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me fazer de virtuosa é fácil, tão fácil, em terra de cego. mas. de soslaio, o desejo, esse demoniozinho no ombro que volta e meia me sussurra obsessões ridículas no pé do ouvido. me distrai por um segundo, nada podendo fazer a respeito, indago acerca da causalidade desse objeto: por que quero porque quero, um bibelôzinho colorido e inúitil. indago, como quem coça uma alergia ligeiramente incômoda, apenas ligeiramente incômoda apenas. apenas. mas. minto: incomoda algo mais. nem sei se quero tê-lo, bibelozinho. incômodo tão maior que o incômodo menor usual dos desejos, seria um desejo maior? me impediria o caminho da virtude que necessito ao menos emular. ao menos. manter fora de vista, seria a solução. ou destruir. destruir. o desejo de destrução aniquilação solução final holocausto um novo demoniozinho. mas. destruir. também me impediria o caminho da virtude. impediria? indago, finjo ignorar a coceira, impassível, me sussurra, não posso, de soslaio. me faço de virtuosa em terra de cego. em terra de cego ninguém enxerga. lá. muito bem. demônios. e anjos? indago. coça.

5 de fevereiro de 2006

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ando tomada de um egoísmo delicioso. por isso talvez não ande escrevendo, não me orgulho, não registro, quero me fazer de virtuosa e fazer como que ele não está aqui. não quero olhar para trás e ver essas pegadas. essas pegadas. mas essas pegadas. mas esse egoísmo.,
um sabor quase lascivo. escorre. pinga. transpira.
deslizo.
esse egoísmo sua.
suo.
sua.
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encaro nos olhos a suposta proclamada vulgaridade da escrita em primeira pessoa, e percebo advir ela de algo que definiria como limitação pessoal: sou-me intransferível. não desejo olhar para o outro, não tenho qualquer curiosidade acerca de alguma subjetividade que seja alheia à minha própria. pois só me interesso por mim mesma, e o outro só me interessa na medida em que olha para mim.

vulgaridade? suprema. tento desviar atenções, teço discursos gastos, me finjo autêntica, não me escondo atrás de personagens: mas me escondo atrás de uma linguagem que não utilizo com tanta destreza, mas em terra de cego. em terra de cego. me dispo acreditando me vestir, como o imperador do conto. as pessoas querem tanto tanto acreditar nos trajes e não há olhar inocente a apontar a verdade. a VERDADE. não me escondo atrás de personagem, sou minha própria personagem e nenhuma mais falsa que esta.

escrever em primeira pessoa é mentir que se fala de si. mentira? a suprema. suprema.