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estendo a mão para tocar seu rosto, mas não, me detenho, ainda estou verde. isso nunca me impediu antes, por que me impede agora? será que aprendi? ainda estou verde. mas não. acho que não. acho que não aprendi, porque já me esqueço. deve ser isso o fluxo, deve ser por isso que me esqueço, para percorrer novos caminhos devemos abandonar os antigos, esquecer os antigos, será? mas e se caminho em círculos, e visito incessantemente os caminhos esquecidos de antes, como ter certeza de que caminho, de que estou indo para a frente, de que não estou engaiolada, de que não estou aprisionada num aquário? ainda estou verde, e não estendo a mão para tocar seu rosto por medo de ver o percurso interrompido prematuramente pelo vidro de um aquário que eu não enxergo mas que talvez esteja lá. digo a você que venha até mim, mas será que você me escutará através das barreiras transparentes que não sei se existem? você não vem ainda. talvez você ainda esteja verde. talvez enxergue o vidro que talvez sim, talvez não, nos separe.ou talvez o aquário não seja meu, talvez ele seja seu. ainda estamos ambos verdes e talvez separados pelos círculos em que caminhamos. até quando? tento me lembrar do caminho, a resposta estará nele, mas me perco na lembrança dele, me esqueci, não vislumbro mais o que se estende à frente. talvez nunca tenhamos nos encontrado, talvez nunca mais venhamos a nos encontrar, talvez venhamos a orbitar em círculos paralelos, concêntricos, que não se cruzarão jamais. quero tanto que não seja assim, quero tanto um dia não estar mais verde, quero tanto um dia encontrá-lo quando você não estiver mais verde, quero tanto me lembrar disso tudo que quero hoje, tanto e tanto. e me sussurram no ouvido, você se esquecerá. e sinto a memória me escapando. olho na sua direção, você não está mais lá, você desapareceu. ou será que fui eu que parti?