6 de fevereiro de 2006

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me fazer de virtuosa é fácil, tão fácil, em terra de cego. mas. de soslaio, o desejo, esse demoniozinho no ombro que volta e meia me sussurra obsessões ridículas no pé do ouvido. me distrai por um segundo, nada podendo fazer a respeito, indago acerca da causalidade desse objeto: por que quero porque quero, um bibelôzinho colorido e inúitil. indago, como quem coça uma alergia ligeiramente incômoda, apenas ligeiramente incômoda apenas. apenas. mas. minto: incomoda algo mais. nem sei se quero tê-lo, bibelozinho. incômodo tão maior que o incômodo menor usual dos desejos, seria um desejo maior? me impediria o caminho da virtude que necessito ao menos emular. ao menos. manter fora de vista, seria a solução. ou destruir. destruir. o desejo de destrução aniquilação solução final holocausto um novo demoniozinho. mas. destruir. também me impediria o caminho da virtude. impediria? indago, finjo ignorar a coceira, impassível, me sussurra, não posso, de soslaio. me faço de virtuosa em terra de cego. em terra de cego ninguém enxerga. lá. muito bem. demônios. e anjos? indago. coça.

5 de fevereiro de 2006

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ando tomada de um egoísmo delicioso. por isso talvez não ande escrevendo, não me orgulho, não registro, quero me fazer de virtuosa e fazer como que ele não está aqui. não quero olhar para trás e ver essas pegadas. essas pegadas. mas essas pegadas. mas esse egoísmo.,
um sabor quase lascivo. escorre. pinga. transpira.
deslizo.
esse egoísmo sua.
suo.
sua.
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encaro nos olhos a suposta proclamada vulgaridade da escrita em primeira pessoa, e percebo advir ela de algo que definiria como limitação pessoal: sou-me intransferível. não desejo olhar para o outro, não tenho qualquer curiosidade acerca de alguma subjetividade que seja alheia à minha própria. pois só me interesso por mim mesma, e o outro só me interessa na medida em que olha para mim.

vulgaridade? suprema. tento desviar atenções, teço discursos gastos, me finjo autêntica, não me escondo atrás de personagens: mas me escondo atrás de uma linguagem que não utilizo com tanta destreza, mas em terra de cego. em terra de cego. me dispo acreditando me vestir, como o imperador do conto. as pessoas querem tanto tanto acreditar nos trajes e não há olhar inocente a apontar a verdade. a VERDADE. não me escondo atrás de personagem, sou minha própria personagem e nenhuma mais falsa que esta.

escrever em primeira pessoa é mentir que se fala de si. mentira? a suprema. suprema.