1 de abril de 2008

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eu tinha cortes nos calcanhares. imagino. algo assim. cortes. pequenos cortes. havia pontos. havia uma ferida. havia que fechar a ferida. havia um curativo. depois de um tempo voltei ao médico, que removeu o curativo para feridas ainda maiores, calcanhares cobertos de sangue vermelho vivo, uma hemorragia que não cessava. o médico advertiu, se não fechar, será necessária uma cirurgia. vamos acompanhar. não acompanhamos. voltei depois, muito tempo, tanto tempo. sem saber muito bem por que tanto tempo. por que o médico não tinha cuidado de meus calcanhares. por que eu não tinha cuidado dos meus calcanhares. não cuidei. não fui cuidada. retornei. removidos de outra feita os curativos. meus calcanhares desagregados, putrefeitos, sangue vermelho escuro, feridas brancas, vazios de carne em dissolução e descolamento.
passei o dia taquicárdica do vazio putrefeito de meus calcanhares. olhando pra baixo, checando se ainda tinha pés. se ainda tinha calcanhares.
tenho.