21 de outubro de 2003

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abismos se anunciam no horizonte. se aproximam. preparo o mergulho.
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"Uma rosa só são todas as rosas
e esta aqui: ágil vocábulo
o único, o perfeito
emoldurado pelo texto das coisas.

Como dizer sem ela
o que foram nossas esperanças
e em meio à constante errância
os momentos ternos e breves."


(Rainer Maria Rilke, poeta alemão.)

20 de outubro de 2003

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a rosa e o om me doeram, me custaram mais do que pi e o infinito, em todos os sentidos. foram conquistados, por assim dizer. e dessa vez eu tinha ali quem me segurasse a mão. pelo menos isso.

fotografaram pra mim todo o processo. colocarei uma parte no ar, no futuro próximo.
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quando os abismos se anunciam no horizonte, surge pra mim o imperativo categórico de me atirar neles, é a conclusão a que venho chegando. mas calma, menina, calma, porque o segredo, o que preciso aprender, é talvez a me atirar com alguma graça, para cair de leve, assim feito pena, assim feito pluma, sem atingir desde logo o chão sem me espatifar de imediato sem me dividir em mil pedaços de novo antes mesmo que o caminho tenha que terminar. porque o caminho sempre termina, não é? e eu sempre me espatifo, não é? eu sempre me espatifo. e o caminho sempre termina antes do que deveria pra mim, porque me jogo de cabeça de olhos fechados como se ganhasse quem chega primeiro. e não ganha. não ganha. ninguém ganha. o prêmio, o prêmio é o caminho.

abismos se anunciam no horizonte.
AS ROSAS

"Quando à noite desfolho e trinco as rosas
É como se prendesse entre meus dentes
Todo o luar das noites transparentes,
Todo o fulgor das tardes luminosas,
O vento bailador das Primaveras,
A doçura amarga dos poentes,
E a exaltação de todas as esperas."


(Sophia de Mello Breyner Andresen, poetisa portuguesa)

17 de outubro de 2003

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"Cavalgar, cavalgar, cavalgar, pela noite, pelo dia, pela noite.
Cavalgar, cavalgar, cavalgar.
E a coragem tornou-se tão lassa e a saudade tão grande. Não há mais montanhas, apenas uma árvore. Nada ousa levantar-se. Cabanas estrangeiras agacham-se sequiosas à beira de fontes lamacentas. Em nenhum lugar uma torre. E sempre o mesmo aspecto. É demais, ter dois olhos. Só à noite, às vezes, pensa-se conhecer o caminho. Talvez à noite tornemos sempre a refazer a jornada que penosamente cumprimos sob o sol estrangeiro? Pode ser. O sol é pesado como, entre nós, o pleno estio. Mas foi no estio que nos despedimos. Os vestidos das mulheres brilhavam longamente sobre o verde. E agora há muito tempo que cavalgamos. Deve ser, pois, outono. Pelo menos lá onde triste mulheres sabem de nós."


(Rainer Maria Rilke, poeta alemão)
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mas chega de falar de viagem caída. vou dormir e comer pão de queijo e tomar café e atualizar meu ioga. e daqui a pouco volto pra falar do tio rilke, que me fez companhia nas noites geladas e solitárias dos últimos dias.
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em tempo: além de *sigh* saudáveis, os últimos dias foram *sigh* produtivos. terminei de ler dois livros, e cheguei na metade da releitura de outro. pra vocês verem como curitiba me entreteu HORRORES: eu tive dias produtivos. EU. dias produtivos. PRODUTIVOS. NÃO NÃO NÃO. subverteram-se todas as leis do espaço-tempo. não é à toa que deu uma azedada.
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também tem que estou me sentindo uma monja franciscana. em curitiba, só vi congresso, mato, congresso, mato. repressão muito pouco saudável da minha necessidade fisiológica de perder a linha. eu tentei, eu tentei, mas o universo não conspirou. no saldo, ficou a impressão, cidade jeitosa, umas pracinhas bonitinhas, muita consciência ambiental. mas meio caída. meu coração de ser essencialmente urbano grita esperneia implora por poluição sonora e visual e mental e física. grita por contrastes. por excessos. sim, porque enquanto estava por lá eu dormia saudáveis sete horas por noite e fazia três refeições diárias. ou seja: monja franciscana. mas chega. voltarei a minha rotina de dormir pouco ou nada e me alimentar de pouco ou nada, e CHUTAR MUITO O BALDE. preciso de desequilíbrio ASAP.
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voltei, mas ainda estou num humor meio esquizofrênico. reativa. azeda. dá nisso, overdose de juridiquês. e abstinência de ioga, pão de queijo, música e café que prestem. mas acho que isso muda hoje.
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voltei. acho.

10 de outubro de 2003

BUT I'M STILL FOND OF YOU

é, ficarei um tempo fora daqui. no meio tempo, estarei me empanturrando no casamento de algum desconhecido. e tomando uma overdose de juridiquês. e batendo pernas numa cidade estranha. aliás, alguém sabe o que existe de decente pra fazer em curitiba?

vai ser conveniente mudar de ares por agora. se sentir saudades, postarei de uma lan. se bem que, sei não, acho que nem. mas volto logo. até lá, fiquem sentadinhos e retesados na pontinha de suas cadeiras de rodinha aguardando ansiosamente meu retorno. issaí, é assim que eu gosto. bons meninos.

8 de outubro de 2003

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"i'm so tired of playing
playing with this bow and arrow
gonna give my heart away
leave it to the other girls to play
for i've been a temptress too long

just give me a reason to love you."

7 de outubro de 2003

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vejam bem, isso aqui às vezes é escrito com sangue. acho que às vezes as pessoas não se dão conta disso. isso aqui é meu sangue. não é passatempo. também não é literatura, abandonei a pretensão de fazer literatura junto com a de deixar minha marca no mundo (*sigh*), e com outras aspirações estúpidas que só se justificavam (se em algum momento realmente se justificavam) nos estágios iniciais e megalomaníacos da minha longínqua adolescência. e não, não, não. só quero dizer, só isso. então leiam, não leiam, gostem, não gostem, whatever. mas saibam: isso aqui é sangue. sou eu. saibam disso.
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(mas a trilha sonora do momento é outra. é essa aí. word by word.)

"storm in the morning light
i feel
no more can i say
frozen to myself

i got nobody on my side
and surely that ain't right
surely that ain't right.

oh, can't anybody see
we've got a war to fight
never found our way
regardless of what they say

how can it feel this wrong?
from this moment,
how can it feel this wrong
?"
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still i can't close my eyes. i'm seeing a tunnel at the end of all these lights. why does it always rain on me?

(... e eu copio seu post, moça. aliás, quem disse que você podia roubar a MINHA música de fossa? agora, sério: espero que você esteja num lugar melhor que o meu agora. beijo.)

6 de outubro de 2003

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e seguir. me render ao instinto inelutável de seguir. cambaleante a princípio, hesitante a princípio, sem vontade a princípio. um instinto sufocado pela casca de sangue coagulado da dor que ainda não passou. que vai passar. que não passou. até não mais. seguir sem fôlego. mas seguir.
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minha capacidade de amar é testada a cada passo. e eu passo. é o inacreditável. eu passo.
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continuo doída, uma dor agora coagulada. vazia. aguardo o inevitável, a dor ser absorvida pelo cotidiano, o cotidiano escolher por mim o agora em diante, o caminho resolver aonde vai por si só. mas aguardo sem muita força pra reagir, pra lutar, quero ir sendo junto com as coisas até não mais precisar ser. deixei de reagir. que o caminho me leve para a solução que julgar melhor, não tenho mais força pra agonizar, pra reagir, pra gritar berrar chorar. pra querer morrer. querer morrer é um esforço descomunal, rejeitar a vida o impulso de sobrevivência o instinto primordial da espécie é um esforço descomunal hercúleo. lutar contra a veia mais forte da existência, lutar contra minha própria ânsia de autopreservação. esforço descomunal. e chega. não tenho mais força pra isso. ainda sangro uma lenta preguiçosa paciente hemorragia interna. e a dor agora me dói estática paralisada paralisante inexorável. o que dói cai sobre mim com a fatalidade do destino que é a personagem mais forte de qualquer tragédia grega. e minha dor cai sobre mim com o peso a pompa a solenidade daquilo que é trágico, daquilo contra o qual não quero não posso lutar. dou o braço para o destino e aguardo que ele me leve ao caminho mais adequado. não é assim que se faz, assim que deve ser? fé nas linhas tortas divinas. fé no universo. amar a vida quando ela te derruba, amar a vida principalmente quando ela te derruba. amar profundamente o seu algoz. meu único algoz é ela, a maldita. e eu não a amo de novo ainda mas não tenho mais forças para o sobre humano de rejeitá-la. não tenho. e dou o braço pra ela, ela vai me reconquistar em breve, eu sei, ela é irresistível e eu sou fácil. e em breve vou amá-la de novo. que jeito? minha capacidade de amar é testada a cada passo, e a cada passo é surpreeendente que eu passe. é o inacreditável.

5 de outubro de 2003

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minha capacidade de amar é testada a cada passo.